Amor de mãe

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Miriam Gimenes

Lilia Cabral, no ar em ‘Fina Estampa’, lembra dos exemplos que sua personagem deu, a Griselda, e diz como lida com os tempos de isolamento

A novela Fina Estampa foi a escolha da Rede Globo para substituir Amor de Mãe, folhetim que teve de ser interrompido em razão da pandemia do novo coronavírus. O título mudou, mas a temática é a mesma. Griselda, feita por Lilia Cabral, carrega com si o trabalho árduo para criar os três filhos – Quinzé (Malvino Salvador), Antenor (Caio Castro) e Amália (Sophie Charlotte) –, sozinha, com dignidade. A sua história remonta à de muitas mulheres brasileiras que, abandonadas, têm de buscar o sustento da casa.

O fato é que a personagem interpretada em 2011, também conhecida como Pereirão – que trabalhou como ‘marido de aluguel’, até ganhar na loteria – foi uma das de maior sucesso de Lilia. A atriz, de 62 anos, que estreou na televisão em 1981, com a novela Os Adolescentes, de Ivani Ribeiro, na Bandeirantes, só foi para a Rede Globo três anos depois, de onde não mais saiu. De lá para cá, trabalhou em grandes sucessos da emissora, entre eles Vale Tudo, Mandala, Tieta, Pedra sobre Pedra, Anjo Mau, Laços de Família, A Favorita (que acaba de entrar no catálogo da Globoplay), A Força do Querer, entre outras. Por último foi  O Sétimo Guardião.

Mas ela guarda carinho especial por Griselda, criada pelo autor Aguinaldo Silva, até por ter sido sua primeira protagonista. “Fui muito feliz e o público me recebeu de braços abertos. A Griselda era solar, mesmo com todos os problemas que ela tinha com os filhos e com a vida sofrida dela. Mesmo nos piores momentos, ela sabia tirar lições e também dava lições de vida para todos.” Ela diz ter achado incrível a atitude da emissora de paralisar as gravações. “A responsabilidade e o respeito que a emissora está tendo com todos os profissionais envolvidos nas novelas que estão no ar atualmente, ao mesmo tempo em que é um desafio entrar para substituir Amor de Mãe, que estava na boca do povo. As pessoas são apaixonadas pelos personagens que eles estão seguindo até então. Espero que todos sigam as recomendações, se cuidem, e que, enquanto isso, a gente possa, com muita humildade, representar as novelas que ficarão fora do ar. Nessas horas, a gente só torce para que tudo dê certo: para que Amor de Mãe volte, que todo mundo curta o final, e para que as novelas que entrarão no ar agradem ao público.”

Lilia, que nasceu e cresceu em São Paulo, faz qualquer tipo de personagem. Quem não se lembra da Amorzinho, a viúva fogosa que fez em Tieta (1989)? Hilária. Já na série recém-lançada Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira, ela é Dionara, mãe do protagonista Paulo (Emilio Dantas), uma artista que mora na Serra, mas bem contemporânea. Para ela, os serviços de streaming, inclusive em tempos de isolamento físico, são boas pedidas e ditarão os rumos do futuro da dramaturgia.

Tanto que ela tem consumido muito ficando em casa. “Durante o dia, tenho lido bastante e assistido a séries e filmes. Gosto muito de ir para a rua, tenho prazer de andar, de ver gente. Agora que não podemos fazer isso, estou ficando em casa, de verdade. E tenho assistido à novela (Fina Estampa) todos os dias, já que agora estou tendo a oportunidade de acompanhar com espectadora.”

Lilia, casada com  o economista Iwan Figueiredo, é mãe da também atriz Giulia, Bertolli Figueiredo, que estava no ar em Malhação, também interrompida pela pandemia. E, como toda mãe, é só elogios à rebenta. Confira a seguir a conversa que ela teve com a Dia-a-Dia Revista:

 

A Griselda é uma personagem sempre lembrada pelo telespectador brasileiro. Como é vê-la novamente após quase dez anos?

Apesar de ter ido ao ar em 2011, Fina Estampa traz lições que continuam sendo importantes: a minha personagem, Griselda, tem um comportamento muito honesto diante dos filhos. Ela fazia tudo em razão deles e teve que sobreviver dando educação e estabilidade à família. Por isso, fiquei muito feliz ao saber que a novela está de volta. Além disso, foi uma história que fez muito sucesso entre o público. Recebemos muito carinho na época.

 

A novela trata de assuntos que, apesar da passagem do tempo, não cessaram. Entre eles está o preconceito. Como vê essa situação hoje?

Durante Fina Estampa, conheci muitas mulheres que trabalham para sustentar seus filhos e darem o melhor para eles, para serem alguém na vida. Isso a gente vê todos os dias, ainda hoje, em qualquer classe social, mas só que depois que a novela estreou é que os Pereirões começaram a aparecer. As mulheres que faziam trabalhos braçais passaram a não ter vergonha, a não se sentirem encabuladas de mostrar que elas consertavam tudo. Isso foi uma vitória para elas, e para gente que estava fazendo a novela também. 

 

O que a Griselda representou na sua carreira?

A Griselda foi a minha primeira protagonista, apesar de eu sempre ter feito bons personagens. Eu vinha de uma leva de novelas do Manoel Carlos e, de repente, caiu na minha mão esse personagem criado pelo Aguinaldo Silva, com quem há muito tempo eu não trabalhava. Sou muito agradecida ao Aguinaldo. Fui muito feliz e o público me recebeu de braços abertos. A Griselda era solar, mesmo com todos os problemas que ela tinha com os filhos e com a vida sofrida dela. Mesmo nos piores momentos, ela sabia tirar lições e também dava lições de vida para todos.  

 

Tem alguma característica ou algo que você aprendeu com o personagem que ficou para sua vida?

Aprendi tanta coisa com a Griselda, tantas lições. No início, levei um pouco das minhas experiências para ela: era um personagem de origem portuguesa, então, levei muita coisa da minha família, de sobrevivência, porque eu sou filha de imigrantes que vieram para o Brasil bem depois da Segunda Guerra e passaram por muitas dificuldades. Mas a vida da gente não muda: continuamos lutando e batalhando para sobreviver seja em qual for o quesito. E, se você perceber, a Griselda vai sobrevivendo até o fim da novela, como a gente. Isso só me incentiva a lutar sempre por aquilo que eu quero e acredito. A vida já tinha me ensinado isso cedo, com minha família, e depois dessa novela eu continuo lutando ainda mais por aquilo que eu acredito.

 

Você também pode ser vista em Todas as Mulheres do Mundo. Fale um pouco da personagem?

A minha personagem, Dionara, é mãe do Paulo (Emilio Dantas). Ela é independente, uma artista, escultora. Mora na Serra, enquanto o Paulo é urbano, um homem da cidade. A Dionara tem um romance com Floriano Peixoto, um ator com quem não contracenava havia muito tempo, e foi muito gostoso.

 

Como vê o crescimento do serviço de streaming, principalmente neste momento de isolamento físico?

É uma possibilidade a mais tanto de consumo quanto de trabalho. Todas as Mulheres do Mundo, por exemplo, está na íntegra no Globoplay e eu soube que tem tido uma repercussão muito boa.  

 

Como você tem lidado com a quarentena?

Durante o dia, tenho lido bastante e assistido a séries e filmes. Eu gosto muito de ir para a rua, tenho prazer de andar, de ver gente. Agora que não podemos fazer isso, estou ficando em casa, de verdade. E tenho assistido à novela todos os dias, já que agora estou tendo a oportunidade de acompanhar com espectadora.

 

E quando sua filha disse que queria seguir sua profissão, como reagiu?

Desde a primeira vez que perguntei o que ela queria ser, ela respondeu ‘atriz’. Giulia é estudiosa, se dedica, e eu tenho muito orgulho do caminho que ela está traçando.

 

Quando você decidiu que queria ser artista?

Nas aulas de teatro e expressão corporal do colégio, eu já descobri que meu caminho era artístico. Passei no vestibular de Belas Artes e depois fiz Escola de Arte Dramática, na USP.

 

Quais são seus projetos para após o período de quarentena?

Comecei a desenvolver uma peça antes da quarentena, mas agora está tudo em suspenso. Estamos em um momento que exige calma e responsabilidade. E ficar em casa.

 

Qual seu maior sonho hoje?

Que o mundo mude para melhor quando tudo isso passar. Quero acreditar que vamos aprender muita coisa disso tudo que estamos vivendo.




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