Amor pela profissão

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Vinícius Castelli

Apaixonado por teatro e sucesso na novela ‘Bom Sucesso’, da Globo, ator Romulo Estrela colhe os frutos de 15 anos de batalha

Dono de educação ímpar e fala gentil, Romulo Estrela é o tipo de pessoa que luta pelo que acredita. Nascido em São Luís do Maranhão, o ator, apaixonado por teatro, aos 17 anos pegou suas coisas, saiu de casa e se mudou para o Rio de Janeiro. A meta: estudar atuação. E assim o fez. No bairro Botafogo. Lutou, estudou, batalhou, cavou espaço e procurou trabalho ainda enquanto estudava. Nunca parou.

Sua estreia na TV foi na novela Da Cor do Pecado (Globo, 2004). Passou ainda por folhetins como Essas Mulheres (Record, 2005) e Além do Horizonte (Globo, 2010), entre outros títulos. Recentemente fez, no teatro, O Preço, releitura da obra do norte-americano Arthur Miller. O teatro, aliás, é uma das suas paixões. É onde consegue descansar.

Hoje, aos 35, colhe os frutos de sua caminhada. É possível vê-lo, na faixa das 19h, na Globo, na novela Bom Sucesso. Ele vive o personagem Marcos, cujo pai, Alberto, é encenado por Antonio Fagundes, para quem o mara-nhense tece elogios com todo o carinho e respeito.

Também parceira na empreitada está Grazi Massafera (Paloma), cuja personagem, segundo o ator, tem feito Marcos crescer bastante.

Algo na novela que tem deixado Romulo muito feliz é o fato de Marcos e Alberto lidarem com livros. A família é dona de uma editora. Já foram citados, inclusive, na obra, títulos como Don Quixote de La Mancha, Alice no País das Maravilhas, Orfeu da Conceição e Peter Pan, por exemplo.

Falar de livros, para Romulo, além de ser gratificante, é muito necessário. “É extremamente importante que a gente tenha contato com a literatura. Confesso que nos dias de hoje, com tantos dispositivos diferentes e possibilidades de entretenimento, você voltar a pegar um livro e ler uma história no papel impresso é bastante significativo e importante”, afirma.

Romulo é parte também da segunda temporada da série Ilha de Ferro, já disponível no Globoplay. Para viver Dante, um comandante da marinha, o ator ficou duas semanas convivendo com mergulhadores de combate, na base naval de Mocanguê, no Rio de Janeiro.

Pai de Theo, 3 anos, e marido de Nilma Quariguasi, Romulo agradece o apoio da família, não só nos dias de hoje, mas desde que saiu do Maranhão. Confira a entrevista a seguir:

Fale sobre sua passagem pela novela Bom Sucesso. Tem sido um diferencial na sua carreira essa experiência?

Sem dúvida nenhuma. Bom Sucesso é uma novela linda e todas as pessoas envolvidas têm o maior prazer em fazer. É muito bom ver a forma com que o público tem se identificado com a história, tem se reconectado com a literatura. Estou, particularmente, muito feliz em interpretar o Marcos, personagem que é contemporâneo, diferente de tudo o que fiz nos últimos anos. Então, sem dúvida, é uma transição. É um trabalho que vai marcar minha trajetória.

Você dá vida ao Marcos. O que há de você nesse personagem e como foi a construção dele?

Acho que tenho algumas coisas muito parecidas com esse perso-nagem. Daí a complexidade de interpretar o Marcos. Sou um cara sonhador, pisciano. Então, traba-lho muito com minha intuição, sensibilidade para as coisas. O Marcos é um cara que vê muito prazer em viver. Ele vive o agora. Ele dá valor para o momento presente. Ele não faz tantos planos para a vida e nisso a gente é dife-rente. Mas, sem dúvida nenhuma, essa obstinação e amor pela vida, (de) ver beleza, e tudo por um prisma da positividade, e ser um cara que respira, que se alimenta da natureza, isso a gente tem de parecido.

E o que acha que levará consigo desse personagem quando a novela terminar?

O Marcos é um cara que lá no começo se apresentou como uma pessoa que vive o aqui e o agora, sem se preocupar muito com o futuro. A medida em que o tempo foi passando, ele conheceu a Paloma (Grazi Massafera) e começou a lutar por essa mulher, por ter uma experiência ao lado dela. Ele foi amadurecendo, criando responsabilidade, entendendo o peso de assumir certas respon-sabilidades. Acho que na vida é um pouco assim. A gente não é a mesma pessoa. A gente vai mudando a cada período, a cada ano. Isso é uma coisa que já venho trazendo, venho pensando nisso já há alguns anos. E acabou ressigni-ficando coisas na minha vida no passar dos anos. Isso é uma coisa que o personagem tem, na história, e que na minha vida também aprendi a fazer. Que é com o passar dos anos, ressignificar as coisas.

Na novela você e seu pai são apaixonados por livros. Como avalia levar o hábito da leitura para a casa da grande massa nesse momento?

Esse é um dos temas principais dessa novela. Essa questão do hábito da leitura, trazer a curiosidade, mostrar para o espectador, para quem não conhece, os grandes clássicos, e para quem conhece, a vontade de reler. Acho que a base de uma sociedade é a cultura. E o livro faz parte disso. A leitura, a literatura, ajudam a formar o intelecto. As histórias dos grandes autores, nacionais e internacionais, são histórias de vida, em sua grande maioria, e isso ajuda a construir o intelecto. É extremamente importante que a gente tenha contato com a literatura. Confesso que nos dias de hoje, com tantos dispositivos diferentes e possibilidades de entretenimento, você voltar a pegar um livro e ler uma história no papel impresso é bastante significativo e importante, também para as novas gerações. Apresentar esse hábito da leitura. Acho muito importante e necessário para a sociedade, para a gente enquanto indivíduo.

Ainda falando sobre leitura, acha que a novela pode fomentar, de alguma forma, o hábito de ler por conta des-ses personagens?

A novela já está fazendo isso. Recebemos dados da Editora Globo dizendo que houve aumento significativo na procura pelos grandes clássicos, principalmente os citados na novela. Isso deixa a gente com o coração cheio de alegria. Poder fazer nosso trabalho de maneira tão significativa e importante, e levar para as pessoas, ou reaproximar o espectador desse hábito. Já é uma realidade, já acontece. Fico muito feliz em ver que estou somando, ajudando as pessoas a terem novos hábitos ou retomarem hábitos antigos como o da literatura.

Você lê com frequência?

Leio com frequência. Hábito que adquiri. Até mesmo por conta da minha profissão acabei exercitando mais o hábito da leitura. Roteiros, textos, peças, autores, pessoas que, a medida em que ia conhecendo e ia me gerando curiosidade, eu ia procurando aprofundar mais em cada tema, nas construção dos meus personagens. É claro que hoje sempre estou lendo dois títulos, gêneros diferentes, o que me faz relaxar também. Às vezes estou com um livro mais técnico, e lendo outro de ficção, romance.

E como tem sido contracenar com Antonio Fagundes?

Contracenar com Fagundes é um prazer, além de ser um grande ator, ter carreira brilhante no cinema, televisão, teatro, que é a casa dele. Eu tinha vontade já de trabalhar com ele. E agora faço o filho dele na novela. É um ator disponível, sempre muito criativo e inteligente, extremamente educado. Está com a escuta sempre muito apurada para o compa-nheiro de cena. Acabei descobrindo um grande colega de trabalho. Tenho aprendido muito com ele. A gente troca bastante dentro e fora do set de gravação. É um prazer fazer essa novela como filho dele.

Tem ou teve algum momento nessa novela que foi mais difícil de fazer?

Acho que tudo é muito delicado. Todos os momentos são extremamente importantes quando estamos fazendo uma obra aberta, viva, onde a cada semana podemos ter um desdobramento diferente, não esperado. A implantação, o início da novela, é sempre mais delicada, onde você está tateando o personagem, as relações com seus companheiros de trabalho. Mas, acho que a gente nunca relaxa, é sempre muito vivo (o processo) e pode mudar a cada momento. Temos de ir conduzindo, fazendo cena em um estado presente.

O que espera para o fim de seu personagem?

Acho que o Marcos veio atravessando etapas e sofrendo mudanças no comportamento dele, aprendendo coisas com a Paloma, com a doença do pai, com a volta para a editora. Espero um Marcos mais consciente, que consiga fazer planos para o futuro dele, que consiga traçar metas para um futuro. Ele vem conseguindo isso com a relação com a Paloma. Espero essa maturidade, a evolução diante dessas camadas que ele adquiriu com todas essas relações.

Além da nova você também faz parte do cast da segunda temporada de Ilha de Ferro. Como se deu esse convite?

Eu tinha acabado de fazer Deus Salve o Rei (2018) e logo depois de um workshop que fiz na TV Globo fui chamado para fazer a segunda temporada da Ilha de Ferro. Adorei o convite porque sabia que ia trabalhar com Afonso Poyart, que é um diretor que admiro muito, desde Dois Coelhos (2012), e tinha já um desejo de trabalhar com ele. O personagem é extremamente interessante, fora de qualquer coisa que já tinha feito até o momento, então foi desafio. E fiquei feliz e motivado para encarar esse desafio.

Na obra você vive um comandante da Marinha. Você foi ver de perto como os mergulhadores treinam e trabalham? Como foi essa vivência?

Fiquei duas semanas dentro do grupamento de mergulhadores de combate, na base naval do Mocanguê. Fiquei aos cuidados do comandante Aguiar e a equipe dele, para sentir como é o treinamento e para ganhar vivência, como esses oficiais se relacionam uns com os outros. Entrevistei algumas pessoas para entender como é a vida delas, o treinamento, o que significa ser um mergu-lhador de combate de fato, que confesso que tinha pouco conhe-cimento e fiquei extremamente surpreso e a fim de mostrar para a sociedade como eles trabalham e o que representam.

Foi uma experiência exaustiva?

Foi, sem dúvida nenhuma. Tanto o treinamento, minha preparação, como gravar a série. Eu estava sempre em operações limites. Tinham poucas cenas de um convívio fora da vida de militar. Então, foi bem exaustivo, mas prazeroso. Foi bom.

E fazer série é algo completamente diferente de novela ou cinema?

Fazer série é uma mistura do que é TV e cinema. Pelo menos foi essa a minha experiência em Ilha de Ferro. A gente trabalhou com duas câmeras, o que não é uma prática no cinema, normalmente a gente trabalha com uma. Aqui, a maioria das vezes, quando está em uma externa são duas câmeras e no estúdio, três. Foi novo, pois a dinâmica é diferente. A intensidade é grande e o tempo de gravação é menor. A gente não fica tanto tempo como na novela. Foi uma experiência muito boa. Gostei muito da dinâmica.

Você chega a trabalhar em quantos projetos ao mesmo tempo?

Eu tento, dentro do possível, fazer um projeto por vez. Não gosto de estar dentro do teatro e gravando novela. Ou, gravando novela e filmando um longa. Não é uma coisa que costumo fazer. Nunca fiz. Sempre emendei uma coisa na outra, mas nunca fiz duas ao mesmo tempo. Para mim funciona assim. É onde me sinto mais confortável, onde consigo fazer entrega melhor para os meus personagens.

Você nasceu em São Luís, no Maranhão. Conte um pouco da sua infância, por favor?

Sou natural de São Luís. Foi uma infância que tenho ótimas lembranças, sempre viajando com meus pais, nas férias da escola. Fiquei em São Luís até os 17 anos. Foi quando decidi mudar para o Rio de Janeiro para trabalhar como ator. Mas São Luís é uma cidade pela qual tenho muito ca-rinho. Meus amigos, a grande maioria está em São Luís. Sempre que vou para lá a gente se reúne e revive um pouco do que passamos quando adolescentes.

Quando sentiu que queria ser ator?

Eu comecei a fazer um trabalho de publicidade, depois de ter feito alguns poucos desfiles de moda. E aí senti necessidade de estudar interpretação, com 17 anos. Foi quando mudei para o Rio de Janeiro, para procurar uma escola de interpretação e dar continuidade a esse desejo, apoiado pela família, o que foi fundamental nessa minha trajetória.

E quais foram seus primeiros passos para começar essa caminhada?

Depois de ter feito publicidade senti necessidade de dominar interpretação de texto e comecei a estudar isso. Como tinha poucos recursos em São Luís me mudei para o Rio de Janeiro para estudar artes cênicas. Me formei no Espaço, com Daniel Nigri, uma escola de interpretação em Botafogo. E, obviamente, a medida em que evoluía, eu ia cavando oportunidades de trabalho, o que me ajudou muito também, a prática do mercado de trabalho.

E teve apoio da família?

Tive total apoio da minha família desde o início. Eles foram e são fundamentais para que começasse, investisse nessa carreira, para que eu me dedicasse a esse ofício. E isso fez e faz toda a diferença.

Hoje você mora no Rio de Janeiro?

Hoje vivo no Rio de Janeiro com minha esposa e  meu filho. Aqui é minha casa, onde temos nossa sede principal. Tanto minha família quanto a da Nilma, minha esposa, são de São Luís. Então, sempre que a gente pode a gente visita todo mundo. Os amigos, familiares. E nas datas festivas, sempre que a gente pode, estamos lá, com todo mundo.

Além da TV, você já fez diversas coisas no teatro. É uma linguagem que te encanta?

Na verdade, eu amo o teatro. É a casa do ator, onde a gente se experimenta, evolui, um lugar que gosto muito de estar, sempre que possível. Sempre fiz teatro, desde que comecei minha trajetória, desde que mudei para o Rio de Janeiro. Passei um período de seis anos afastado, porque estava emendando um trabalho atrás do outro na televisão, e foi oportuno. Mas eu retomei as atividades no início de 2019 e é um lugar que amo estar. Então, a verdade é que descanso no teatro. Quando não estou gravando, filmando, estou atrás de algum projeto para fazer no teatro.

Você é pai do Theo. É uma experiência que mudou ou tem mudado sua vida?

A chegada de uma criança em uma família, na vida da gente, muda bastante. Muda os hábitos, a dinâmica de uma casa. Tenho um filho lindo, cheio de saúde. Só agradeço a Deus todos os dias a chegada do Theo. O Theo, arrisco dizer pela Nilma também, é um garoto de luz, que chegou para iluminar a minha vida e a da Nilma. A gente aprende muito com ele, todos os dias. Sou muito feliz por ser pai dele.

O que gosta de fazer para recarregar as energias?

Gosto muito de estar com o Theo, com minha mulher, de estar em casa. Sou um cara que preciso muito desse ambiente, que é onde consigo descansar, recarregar mi-nhas energias, zerar da loucura do trabalho e da correria do dia a dia. Gosto de ficar com a Nilma, de saírmos juntos eu, ela e o Theo. Em casa, gosto de assistir a um filme. Ajuda muito a recarregar minhas energias.

Você gosta de sair?

Sou mais caseiro. Gosto de ficar mais em casa, de me reunir com meus amigos, tanto na casa deles como na minha. É um lugar que a gente reserva para isso, para desfrutar com os amigos, desse ambiente, desse lugar, que a gente cuida muito e por isso é muito importante para a gente.

Quais seus próximos planos e sonhos?

Estou aqui dedicado e focado na novela. A gente entrou na reta final agora, então, até janeiro estaremos todos aqui bastante atentos e dedicados a essa reta final. Depois é hora de relaxar um pouquinho, tirar alguns dias de férias com a família para recarregar as energias, dar uma zerada e aí sim voltar voltar a pensar em outros projetos, tanto no teatro quanto no cinema e, certamente, já no ano que vem também fazer algum próximo trabalho na televisão.

 

 



Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados