Preenchimento labial: Todo cuidado é pouco

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Caroline Manchini

Procedimento estético muito procurado por mulheres requer conhecimento médico

Nos últimos anos a busca por procedimentos estéticos, que prometem reparar imperfeições no rosto ou no corpo, tem aumentado entre as mulheres. Segundo último levantamento feito pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), em 2016, o número de interessados em intervenções não cirúrgicas cresceu 79,15% em relação a 2014. Na lista dos mais procurados está o preenchimento labial, que dá forma e aumenta o volume dos lábios, além de delinear o contorno da boca. A técnica, muito utilizada por celebridades, se popularizou com Kylie Jenner, empreendedora e irmã da socialite norte-americana Kim Kardashian, com as atrizes de Hollywood Lindsay Lohan, Megan Fox, Jennifer Gardner e, no Brasil, com as cantoras Anitta e Luisa Sonza, que publicaram fotos nas redes sociais com os  lábios mais carnudos. 

O mais comum é que o preenchimento labial, que deve ser realizado em clínicas ou consultórios médicos, seja feito com o ácido hialurônico, substância que, ao longo do tempo, é absorvida pelo próprio organismo. “Esse produto tem a função de atrair moléculas de água, resultando na hidratação da área que foi injetado e, consequentemente, aumento do lábio”, explica o cirurgião plástico Wendell Fernando Uguetto, que faz parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O procedimento pode ser feito com dois tipos de ácido hialurônico: o produto com consistência mais fina, que é usado para fazer o contorno da boca, e o mais espesso, utilizado para dar volume aos lábios. Antes da aplicação, que é feita com o paciente acordado e não exige internação, os profissionais utilizam pomada anestésica para amenizar a dor das injeções. “O efeito é imediato, mas a região tende a ficar inchada, dolorida e com equimoses (roxos) por até uma semana”, diz Uguetto. No mesmo dia, no entanto, a pessoa pode retornar ao trabalho e realizar suas atividades normalmente. 

O preenchimento labial com esta substância dura  de seis meses a um ano e meio – dependendo da marca do produto – e, após o período, os lábios voltam ao aspecto natural, como aconteceu com a auditora Tamires de Oliveira, 25 anos. “Fiz o procedimento há quatro meses e para mim é como se nunca tivesse feito. Agora meus lábios estão como sempre foram”, observa. A bancária Beatriz Pereira Rufino, 25, também optou pela técnica. “Decidi fazer porque achava meus lábios muito finos, principalmente o superior. Depois do procedimento eles ficaram mais bonitos e maiores, gostei bastante do resultado”, conta.

Além do desejo de ter lábios carnudos, a procura pelo preenchimento labial se dá, também, por conta do envelhecimento. O dermatologista Domingos Jordão Neto, que faz parte da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que com o tempo o lábio perde a sustentação, o colágeno e a elastina. “Ele vai murchando e quando a mulher passa batom sente a diferença, não tem mais aquele volume de antigamente.”

Para recuperá-lo é necessária avaliação detalhada da paciente a fim de deixar o tamanho dos lábios “em harmonia e equilíbrio com todo o rosto, respeitando a individualidade de cada um”, pontua o cirurgião plástico Giancarlo Dall’Olio, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Se o paciente ficar insatisfeito com o resultado é possível reverter a técnica com a aplicação de hialuronidase, enzima que dissolve o ácido hialurônico. Este procedimento não pode ser feito em pessoas com doenças autoimunes ou que estejam com algum tipo de lesão nos lábios. 

Pode-se também optar pelo PMMA ou polimetilmetacrilato (tipo de silicone), substância não absorvível. “Ela é liberada pela Anvisa em pequenas quantidades, mas considerando o grande número de complicações a SBCP não aconselha o uso”, alerta Uguetto. O cirurgião plástico diz ainda que a aplicação do PMMA pode causar infecções, assimetrias, granulomas, extrusão e até mesmo necrose da pele. Este procedimento, que não pode ser feito em gestantes, é permanente e, em caso de insatisfação, só poderá ser retirado por meio de cirurgia. 

Portanto, para evitar futuras complicações, os especialistas recomendam aos pacientes que sejam cuidadosos e procurem por profissionais aptos a realizar o procedimento. “Somente o cirurgião plástico e o dermatologista são autorizados a fazer o preenchimento labial. Outros profissionais não são especialistas em anatomia humana”, afirma Dall’Olio. 

Segundo o cirurgião plástico, o médico leva em torno de nove anos para se especializar neste tipo de procedimento. São seis no curso de Medicina, dois de residência médica em cirurgia geral e mais três anos de residência em cirurgia plástica. No caso do dermatologista, além dos seis anos de curso, ele tem de estudar mais dois para se especializar na área de dermatologia. “É importante que o profissional esteja muito familiarizado com a anatomia da face, porque nela existem nervos e vasos sanguíneos importantes. Se o produto for aplicado nessas áreas pode haver complicações como abscessos, embolia e até paralisia”, explica Neto. “Além disso, o especialista precisa ter total capacidade de diagnosticar o problema”, acrescenta. 

Necrosamento da parte onde o produto foi aplicado, sequelas e resultados artificiais são outros problemas decorrentes de um procedimento mal-sucedido. “Nós vemos esses casos com frequência na mídia”, alerta Uguetto. Ele usa como exemplo situação recente do médico Denis Cesar Barros Furtado, mais conhecido como Dr. Bumbum, que levou a óbito uma de suas pacientes após realizar, em seu próprio apartamento, procedimento estético com PMMA. O laudo médico indica que a bancária faleceu de embolia pulmonar, quando o fluxo sanguíneo do pulmão é interrompido. “Esses são casos de procedimentos mal realizados e em lugares inadequados”, declara o cirurgião plástico, que alerta: “Deve-se evitar o preenchimento labial com profissionais que não sejam qualificados”.

 

 



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