Pelo futuro

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Miriam Gimenes

Cresci em família politizada. Eu não tinha nem 1 ano quando meus pais saíram de casa para  integrar o grupo de 300 mil pessoas que lotaram a Praça da Sé, em janeiro de 1984, pedindo as eleições diretas, após mais de 20 anos de ditadura militar. Discussões políticas entre parentes, programas diários em que se falava sobre as propostas políticas de quem aspirava a um cargo público ou quem já estava nele foram realidades dentro da minha casa. Me formei, portanto, com a consciência da importância que a política tem para o bem-estar do País. 

Ainda no Ensino Médio, um professor especial, que chamávamos de Renatão, trabalhou com a gente a política de diversas maneiras. Lembro que um dos trabalhos que passou para casa era assistir ao debate entre Mário Covas e Paulo Maluf, que em 1998 disputavam o governo do Estado – em que Covas saiu vencedor –, e nos pediu para transcrever, frase por frase, o que eles discutiram.

Em outra ocasião, colocou os candidatos à Presidência da época e nos dividiu em grupos de defesa e acusação de suas plataformas de governo. No meu grupo tive de defender o caricato Enéas Carneiro (1938-2007) e lembro de ter sido um desafio enriquecedor enquanto estudante e também cidadã. 

E foi dele também a frase impressa, que entregou um a um – e que guardo ainda hoje em meus arquivos –, do dramaturgo Bertolt Brecht, em que diz que “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.  

De modo que meu filho, e as outras crianças, não se tornem o que Brecht refutou, acredito que seja papel dos pais, assim como os meus fizeram comigo, mostrar a importância que essa consciência tem para o futuro não só dos pequenos como de toda uma nação. Não só a eleição deste ano é uma ótima oportunidade para trabalhar isso, como também fazer o uso de leituras direcionadas no dia a dia, entre elas as publicações da Coleção Boitatá – A Democracia pode Ser Assim, O Que São Classes Sociais, A Ditadura é Assim etc –, todos disponíveis para leitura na biblioteca do Sesc Santo André. Em tempos em que os nossos ‘amigos’ compartilham fake news sem pudor nas redes sociais e demonstram ter conhecimento pífio acerca do assunto, é importante formarmos, ainda crianças, cidadãos conscientes e bem informados. Só assim não se tornarão marionetes de políticos mal-intencionados e preconceituosos, não defenderão a volta da ditadura militar e não passarão nem causarão vergonha ‘em rede nacional’. 




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