Elevado ao quadrado

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Miriam Gimenes

 

Dizem que o amor não só aumenta como se multiplica. Com vista nesta equação matemática, o psicólogo e gerente de RH Diego de Oliveira, 36, e o biólogo e professor Leandro Couto, 36, se uniram em 2011 e, três anos depois, decidiram que a conta resultaria em um denominador comum, já que decidiram aumentar a família. Entraram, portanto, na fila de adoção, onde aguardaram por dois anos e, em outubro de 2016, foram contemplados com o maior presente de suas vidas: o pequeno Daniel, hoje com pouco mais de 3 anos. Confira abaixo a história da família Oliveira Couto, sob o olhar de Diego.

 
“Desde quando decidimos ficar juntos, em 2011, a ideia sempre foi formar uma família. Pouco tempo depois ficou acordado que teríamos um filho e começamos a pensar nas possibilidades até chegar na adoção. Fomos então à Vara da Infância para nos inscrevermos e, na entrevista, colocamos uma faixa etária bem ampla, de zero a 6 anos. Dissemos também que aceitaríamos crianças de qualquer raça, sexo e as que tivessem deficiência.
 
O tempo passou, fomos habilitados para estarmos na fila, tivemos as visitas domiciliares e preenchemos todos os protocolos e requisitos. Mas só em outubro de 2016 recebemos um e-mail da Vara da Infância dizendo que 120 crianças estavam aptas para adoção e que era para entrarmos em contato. Como as varas atuam de maneira independente teríamos de falar com cada uma delas para entender o perfil das crianças e ver se estavam de acordo com o que buscávamos.
 
O Leandro foi em Osasco, onde moramos. Lá tinham apenas gêmeas de 12 anos, que estavam fora do perfil que queríamos, e um menino que ninguém se interessou em conhecer porque tinha deficiência. A responsável disse: ‘Abordamos 90 casais e ninguém quis’. O Leandro pediu então para dar uma olhada no álbum (que contém o histórico familiar, como foi parar na adoção e laudo médico). Nele constava que a mãe era desconhecida e elencava todos os problemas da criança. Daniel nasceu com mielomeningocele (malformação congênita que afeta a espinha dorsal), síndrome de Chiari (má-formação rara e congênita do sistema nervoso central) e problemas nos rins.
O Leandro trouxe o laudo para casa, porque eu estava trabalhando e falou: ‘Nós temos de tomar a decisão se queremos conhecer a criança’. E respondi: ‘É um laudo muito duro, mas está focado apenas nos problemas dele. Estamos falando de uma criança e esse papel não retrata tudo que ele é, está falando apenas do que ele não pode fazer.’ Ficamos com o laudo no fim de semana e na segunda-feira fomos até a vara e dissemos que queríamos conhecê-lo.
 
No dia 11 de outubro de 2016 fomos até lá, quando Daniel tinha apenas 1 ano e 5 meses. Nosso combinado foi de que ele precisava nos escolher. E o Leandro: ‘Como isso vai acontecer?’ Ao que respondi: ‘Não sei, mas tem de ter algum sinal de que ele quer ser nosso filho’. Fomos até o abrigo, que na época tinha 24 crianças de zero a 3 anos. E ele estava na sala com todas quando uma mulher o mostrou para gente. Apenas o chamei pelo nome. Ele olhou, veio engatinhando em nossa direção e subiu no colo do Leandro. Ali descobrimos o nosso filho. Foi o dia mais emocionante da minha vida.
 
Saímos de lá e no fim do dia voltamos até a Vara da Infância. Começamos o processo de aproximação, de acompanhar as rotinas de alimentação e aí foi super-rápido. Dez dias depois o juiz nos deu a guarda. Ele veio morar com a gente dia 21 de outubro. Desde então tem tido evoluções grandiosas. Quando veio não sentava, não tinha equilíbrio para se manter. Hoje já fica em pé sozinho, teve alta da fono no fim do ano passado porque sua fala já condiz com a idade. Tem uma rotina de fisioterapia na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), pratica artes marciais, está na escola, faz natação e inglês. Todo esse estímulo tem sido determinante para o desenvolvimento dele, que é o amor das nossas vidas.
 
Ser pai dele hoje é meu melhor papel. Sempre digo que o dia 11 de outubro foi nosso reencontro e o primeiro Dia dos Pais que passamos com ele foi a celebração do nosso segundo aniversário. Foi muito festivo, tínhamos milhões de motivos para comemorar o maior presente que a vida já nos deu. E hoje, tendo em vista a questão da deficiência, sonho que ele possa fazer tudo o que quiser. Conhecer os lugares que desejar, ser feliz, independentemente das questões de acessibilidade, que é um desafio muito grande. Quero que Daniel possa ser plenamente feliz. Sempre falo para ele: ‘O mundo é seu, você pode todas as coisas’.
 
O maior desafio da vida dele já viveu. Desde tão pequeno ter passado por tudo isso, na condição que ele tinha, em um abrigo... Hoje tem uma família, dois pais, avós, tios, primos, e tenho certeza que isso é um diferencial. Não se pode julgar a criança por um laudo. No documento que recebemos não falava do sorriso dele, o quanto é cativante, o quanto é inteligente. Nós só demos uma chance para essa criança aparecer. E hoje já estamos novamente na fila para uma segunda adoção. Está na hora de Daniel ter um irmão.”



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