Este é o melhor trabalho da minha carreira

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Miriam Gimenes

Rodrigo Lombardi, que acaba de encerrar temporada de 'Carcereiros' na Rede Globo – e já está gravando a terceira ­ comemora momento profissional

Há pelo menos dois anos, o ator Rodrigo Lombardi voltou seu olhar para um profissional até então desconhecido do seu dia a dia: o carcereiro. Escolhido 'no susto' para substituir o ator Domingos Montagner – que morreu em setembro de 2015 e já estava escalado para o papel –­na série, tratou de, em pouco mais de uma semana, se inteirar do assunto e vestir, dos pés à cabeça, do personagem Adriano. “Este é o melhor trabalho da minha carreira. Isso envolve não só o meu personagem, mas o texto, a direção, a preparação e toda a produção. Acho que conseguimos chegar a um patamar de qualidade e de entrega muito alto, isso se reflete na série”, analisa. Não à toa, Carcereiros, inspirada na obra homônima de Drauzio Varella, ganhou prêmio em Cannes antes de estrear na TV aberta, já foi vendida sua distribuição internacional por meio de serviço de streaming, teve excelente audiência e pode virar filme.

O trabalho, dirigido por José Eduardo Belmonte, mostra, pela primeira vez, a vida de um agente penitenciário sob os pontos de vista profissional e humano. Ainda na primeira temporada – encerrada há pouco na Rede Globo e que deve ser retomada em outubro –, Adriano, que deixou de lecionar História para seguir a profissão de seu pai, Tibério (Othon Bastos), vive situações extremas e, com elas, desenvolve a habilidade de negociação e descobre o valor que a palavra tem. “Não foi feita uma adaptação (para TV), estamos vindo com a mesma série que está no Globoplay, com a mesma força, o mesmo impacto, com a parte documental. O que acontece é que se viu a possibilidade de ter mais histórias nessa primeira temporada, isso é bom. A repercussão da série no streaming foi positiva, o público gostou muito”, analisa o ator.

O fato de intercalar casos reais, com inúmeros depoimentos de carcereiros, com o ficcional trouxe mais realidade ao que foi mostrado. E, além de integrar os atores com a realidade pesada do sistema prisional brasileiro, serviu também para que a população conhecesse um pouco do cotidiano desses profissionais, que sofrem pressão, literalmente, de todos os lados. “Vi mais de perto uma realidade que eu não conhecia a fundo. Já tinha estado em um presídio real por conta de O Astro, mas agora tive a oportunidade de entender o que é esse sistema mesmo. Esse sistema que temos hoje não busca a regeneração, esses lugares colocam as pessoas em situações limites, o ser humano vira bicho.”

Por conta deste trabalho, acrescenta, pôde estudar sobre o assunto e conhecer as histórias 'pesadíssimas' que guardam estes profissionais. Mas nem por isso sabe dizer se a violência que vivenciamos no Brasil hoje, tanto dentro quanto fora dos presídios, tem solução. E não acha que a intervenção militar no Rio de Janeiro, por exemplo, seja uma forma de amenizar o que se vivencia por lá. “Não, não acredito. Mas hoje eu tenho mais perguntas a fazer do que uma certeza de que caminho deve ser seguido.”

A única convicção que tem, acrescenta, é que é preciso melhorar a estrutura do sistema prisional do País, de modo que as pessoas que nele convivem, tanto a trabalho quanto cumprindo pena, possam sair bem melhores de lá. “Quando você conversa com um carcereiro que já foi feito refém mais de 20 vezes, você não entende por que ele busca aquilo para a vida. Os casos de depressão e dependência química são presentes na vida deles, isso diz muito sobre o que pode acontecer com qualquer pessoa que esteja nesse lugar. As penitenciárias que temos hoje servem para reeducação ou para punição? O cara que chega ali tem chances de sair melhor do que entrou? Assim como o Adriano, eu acredito que as pessoas possam se regenerar, mas é preciso ter estrutura para isso.” Com certeza. Há estudos que apontam que mais da metade dos presos que deixam a cadeia voltam a cometer crimes.

Para os próximos cinco episódios – mais três inéditos –, que entram no ar em breve, Rodrigo não pode dizer o que acontece com Adriano, apenas que sua vida pessoal seguirá tendo muitas reviravoltas. “Posso dizer que o personagem amadureceu aqui dentro, ele continuou comigo.” A terceira temporada está sendo gravada em uma fábrica desativada em São Paulo, que foi visitada pela equipe da Dia-a-Dia, e impressiona pela realidade dos cenários.

HISTÓRIA

A carreira de Rodrigo Lombardi, que nasceu em São Paulo há 41 anos e já sonhou ser jogador de vôlei, teve seu início, na televisão pelo menos, em 2005, com a novela Bang Bang. Seu primeiro protagonista, no entanto, veio três anos depois, o Raj de Caminho das Índias, de Glória Perez. Os trejeitos de indiano e o entrosamento com Juliana Paes o fizeram entrar para o primeiro escalão do elenco da emissora. E como descobriu a paixão pela arte? “Na época de colégio, eu já gostava de teatro. Participava de um grupo amador junto com alguns amigos, mas aí fui morar nos Estados Unidos quando terminei o Ensino Médio. De volta ao Brasil, retomei o teatro, fiz uns comerciais, mas tive de trabalhar em outras coisas também. Depois, entrei no Grupo Tapa, onde fiz de tudo um pouco e onde aprendi demais”, lembra.

Aprendeu mesmo. De Caminho das Índias para cá, protagonizou Passione (2010), O Astro (2011), Salve Jorge (2012), Meu Pedacinho de Chão (2014) e Verdades Secretas (2015). O último grande sucesso foi como Caio, em A Força do Querer (2017), quando novamente fez par com Juliana Paes, a Bibi Perigosa. E, assim que terminar de gravar Carcereiros, adianta, irá estrear peça em São Paulo.

Ele – que já trabalhou de distribuir panfletos, foi contrarregra, agente de viagens, garçom, modelo – agora só quer mais tempo com a família: é casado com Betty Baumgarten, com quem tem um filho, Rafael, 9. “Fico 12 horas por dia no set, aí o tempo que sobra é para dormir – preciso de oito horas de sono –, tomar banho, estudar o texto do dia seguinte, falar por telefone com a minha família e só. Acabou o dia.” A dedicação tem valido a pena, Rodrigo.




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