Quando Magal dança todo mundo se agita

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Vanessa Soares

Protagonista de histórias surpreendentes, o sempre sorridente Sidney decidiu passar a limpo cinco décadas de carreira

Pra que tristeza? Pra que chorar? A vida é festa pra se cantar.” O trecho da música Alegria de Viver, que faz parte da discografia do cantor Sidney Magal, traduz bem quem é o artista e o ser humano que existem por trás dele. Dono de um estilo inigualável, seu sucesso transcende gerações e arrebata legião de fãs de todas as idades. Não à toa, ele está comemorando meio século de carreira e com motivos de sobra para celebrar. “A gente nunca imagina que vai chegar aos 50 anos, porque quem imagina é pretensioso. Não sabemos o que o destino nos reserva e música é uma caixa de surpresa. Tinha certeza que queria cantar, gostava muito de fazer shows e achei que ia adiante. Nessa, acabei chegando nos 50 anos”, comemora.

Nascido no Rio de Janeiro, a carreira de Magal teve início quando ainda era adolescente. Vindo de uma família totalmente envolvida com o universo musical – é primo de ninguém menos do que Vinicius de Moraes – e incentivado pela mãe, que na juventude foi cantora de rádio, mas abdicou de cantar para cuidar do marido e dos filhos, aos 14 anos já cantava em churrascarias e boates.

Mas uma temporada de cerca de dois anos na Europa, no início da década de 1970, lhe deu o que faltava para chegar ao topo das paradas de sucesso. “Foi uma experiência além das boates. Esses dois anos foram fundamentais”, relembra. Foi lá que ele deixou de ser Magalhães para se tornar Magal. “Encontrei minha maneira de cantar, de vestir. Quando voltei, em 1972, vim com personalidade”, afirma. Foi fora do País também que adotou o estilo cigano, um jeito que ele encontrou para levar alegria ao público. “Naquela época meu empresário era argentino e ele dizia que eu era todo cigano. Só depois de muito tempo fui descobrir que tinha um tataravô húngaro que pertencia a esse povo.”

Junto ao sucesso também vieram fãs enlouquecidas capazes de qualquer insanidade para tirar uma casquinha do ídolo. Entre as mais malucas, Magal recorda o dia em que fez check-in no hotel e quando entrou no quarto deu de cara com uma camareira. “Ela estava escondida. Me pediu para não contar para ninguém, por medo de perder o emprego, mas disse que era muito minha fã e saiu de lá chorando. Ainda bem que não estava pelada (risos). Em outra ocasião, em um show no estádio, uma menina se jogou da arquibancada na minha direção. Ela poderia ter morrido. As pessoas, às vezes, exageram.” Apesar das loucuras, o cantor garante que sabe lidar muito bem com a exposição. “Acho que quando você se propõe a ser artista, está expondo seu trabalho em busca de aplauso, de crítica, elogio e assédio, então tenho que aceitar isso.” Com os holofotes voltados para ele, vieram também especulações a respeito de sua sexualidade. Muito bem resolvido, nunca se incomodou. “Sempre declarei que o artista não tem sexo. Acho que é um assunto íntimo e que as pessoas não deveriam se preocupar com isso”, opina.

Além de cantar, Magal também já se arriscou algumas vezes no universo da atuação. Em 1979, estrelou Amante Latino, em que interpreta ele mesmo. No filme, decide fazer um show para angariar fundos para pagar a hipoteca da escola que estudou na infância. O local está prestes a ser demolido para dar lugar a uma fábrica. No entanto, o futuro dono da instalação fará de tudo para impedir o show, mandando sua filha, uma jovem muito bonita, seduzir o cantor, que, por sua vez, já está apaixonado por Sandra Rosa Madalena, nome de uma das canções que o consagraram, mas que não foi inspirada em nenhuma mulher em particular. Na verdade, ele apenas uniu três nomes bem comuns na época para uma música composta pelo empresário do cantor. Fora isso, fez algumas dublagens em animações como Happy Feet 2, Meu Malvado Favorito 2, Divertida Mente, entre outros. No entanto, seguir carreira de ator está fora de cogitação. “Não tenho essa pretensão”, garante.

POR QUEM O SANGUE DELE FERVE

Sucesso não apenas no palco, Sidney de Magalhães – o homem que dá vida ao artista – é casado com Magali, com quem teve três filhos: Rodrigo, Natália e Gabriela. “Ser pai acho que é tudo o que sonhei na minha vida. Com 9 anos a professora perguntou o que queria ser quando crescesse e respondi que queria ser pai.” Juntos há 37 anos, Magal acredita que o encontro com a mulher foi algo sobrenatural. Tanto que a história vai virar filme como parte das comemorações dos 50 anos. “Foi um encontro incrível, diferente. Ela tinha 16 anos. No dia em que a vi pela primeira vez pedi que se casasse comigo”, relembra. O longa, ainda sem data confirmada, deve ser lançado ainda este ano. O segredo de uma relação tão duradoura, raridade nos dias atuais, Magal atribui à tranquilidade de deixar as coisas acontecerem naturalmente. “Acertei em cheio. Temos um casamento bastante harmonioso. O segredo é abrir o coração e ter consideração, paciência.”

Apesar da fama, o cantor garante ser alguém comum. “Nunca deixei de ser a pessoa de sempre. Gosto de viver, de curtir. Mesmo no auge da carreira, quando meus filhos eram novos, os levava na escola, viajava, fazia tudo com eles sempre que podia. Nunca gostei de me enfiar em um casulo por ser artista. Não sou estrela 24 horas por dia. Tenho que ser um ser humano legal”, reflete. Em um tempo totalmente diferente de quando começou, o carioca se sente vencedor por chegar onde está e por todas suas conquistas. “Sempre ouvia que brasileiro não tinha memória e meu trabalho não duraria muito tempo. Então, comemorar 50 anos de carreira ao lado da minha mulher e dos meus filhos é gratificante.”

Nem mesmo com todo esforço, porém, sua carreira sempre foi um mar de rosas. Como tudo na vida, Magal relembra que também passou por altos e baixos, mas confessa que nunca pensou em desistir. “Sempre fui muito otimista. Nada me interessava muito. Não nasci para ser patrão nem empregado. Na minha profissão consegui minha independência. Passei por fases que não foram muito boas, mas acabou tudo dando certo.”

CHAMA QUE MAGAL VAI

Entre as comemorações dos 50 anos de carreira, além do filme que conta sua história de amor, Sidney Magal realizou um show em agosto, no Espaço das Américas, em São Paulo, com a participação de vários artistas convidados, como Ney Matogrosso, Ana Carolina, Alexandre Pires, Rogério Flausino, Rincon Sapiência, entre outros. No repertório, os grandes sucessos que marcaram a carreira, como Sandra Rosa Madalena, Meu Sangue Ferve Por Você, Me Chama Que Eu Vou, Tenho, entre outros, além de músicas de outros artistas e duas canções inéditas. Tudo que foi apresentado para o público será transformado em DVD, que deve chegar às prateleiras ainda este ano.

Além disso, Magal está preparando o lançamento de sua biografia – Sidney Magal: Muito Mais Que Um Amante Latino –, escrita pela andreense Bruna Fonte, com lançamento previsto para o mês que vem, mas ainda sem data confirmada. “Tem três anos que estava em contato com a Bruna. Já queria fazer o livro, mas não sabia se tinha coisas para contar. Além disso, um livro é tão definitivo. Então, quando surgiu a história dos 50 anos, perguntei para ela se ainda estava a fim. Vai ficar muito legal”, conta. Magal e Bruna se conheceram quando ela escrevia com Roberto Menescal, em 2012, Essa Tal de Bossa Nova (Ed. Prumo, 159 páginas, R$ 20, em média) e precisou entrar em contato com o cantor para confirmar histórias. Como se vê, o bate-papo não parou por ai. “Ficamos umas duas horas no telefone”, relembra Bruna.

Mas foi apenas no fim de 2016 que o cantor decidiu que havia chegado a hora de dar andamento no projeto. “Magal não queria que o livro fosse uma coisa solta. Desejava que fizesse parte de alguma comemoração, que tivesse um gancho para ser lançado. Então a gente vinha conversando desde 2012, mas foi no fim do ano passado, começo deste, que a gente realmente deu início”, relembra.

Bruna decidiu contar a história de Magal porque considera que ele tenha algo a dizer, dando a ela a possibilidade de ir além do currículo do artista. “O Magal tem forma de ver a vida muito legal. O filtro dele é muito bonito, é uma pessoa que sempre tem alguma coisa boa a dizer. As pessoas ainda olham para ele como aquele amante latino simplesmente, aquela imagem bonita, colorida. Mas tem uma pessoa muito inteligente, culta e reflexiva atrás disso”, comenta.

Além disso, a escritora comemora o fato de poder unir o útil ao agradável na realização deste trabalho, uma vez que também é fã do cantor, admiração que vem de família. “Sempre apreciei o trabalho dele. Magal conseguiu transcender gerações, então é aquela pessoa que a neta, a mãe, a tia e a avó gostam. Tanto que no show em São Paulo foram famílias inteiras, assim como eu, que estava com minha mãe, avó, meu marido, irmão. Ele dialoga com todas as idades e se dá bem com pessoas de todos os estilos”, afirma.

Entre tantas boas histórias que o público terá acesso, Bruna conta que, de cara, o artista revela algo que esconde desde sempre: seu ano de nascimento. “A idade que todo mundo acha que ele tem (64 anos) não é real. Magal revela o motivo, mas ainda não posso contar senão a editora me mata”, diverte-se a andreense, que garante que o livro resume quem é Sidney Magal. “Ontem mesmo eu reli o livro e estou feliz com o resultado. É um lado dele que as pessoas não imaginam.”




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