Unidas na luta e nas letras

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Vinícius Castelli

Tudo surgiu a partir de reuniões que têm como sugestão leituras críticas de poesias. Os encontros, batizados Sábados PerVersos – a poesia em questão, realizados semanalmente desde 2014 em Santo André, na Alpharrabio Livraria e Editora, ganharam força. O resultado, tanto das discussões, quanto do número de mulheres que participam, vira agora a coleção literária PerVersas.

O primeiro lançamento, de um total de 12 – por ora, e todos escritos por mulheres –, acontece amanhã, em Santo André, na sede da livraria (Rua Dr. Eduardo Monteiro, 151. Tel.: 4438-4358), às 11h, com a obra a mulher antiga (Alpharrabio Edições, R$ 15), de Dalila Teles Veras, responsável também pelo projeto.

A obra é ilustrada por poemas inéditos escritos em 2015. O livro, aliás – assim como toda a coleção –, vai na contramão do que o mercado faz. Trabalho minucioso, um tesouro em tempos de imediatismo e produção em massa. Cada exemplar é feito manualmente, com cuidado e carinho. “A escolha dos conteúdos é minha, que sou responsável editorial da coleção, mas toda a criação e execução do projeto gráfico é inteiramente de Luzia Maninha, minha parceira em todos estes anos de Alpharrabio e com larga experiência nesse campo”, conta Dalila.

Outra peculiaridade é que, para apresentar os poemas, a escritora os datilografou na máquina Olivetti Studio 45, sua parceira desde 1976. Há ainda a relação com o carbono, um romance com a escrita. “Por ser artesanal, nenhum livro fica exatamente igual e são apenas 92 exemplares, número que remete ao ano de fundação da Alpharrabio, 1992”, explica a autora.

Luzia Maninha confessa estar produzindo esse tipo de publicação há anos, a maioria fora do comércio, apenas como objeto de paixão. “Quem viu a exposição dos 25 anos da Livraria Alpharrabio teve oportunidade de apreciar dezenas desses títulos que, diga-se, são muito apreciados por colecionadores”, diz.<EM>

Segundo Dalila, a ideia de fazer coleção de forma tão peculiar veio da força que esse tipo de publicação, com caráter não só literário, mas artístico, vem ganhando espaço, inclusive em feiras específicas. Para ela, é uma alternativa e há sim mercado para isso.

Para a escritora, esse projeto, feito por mulheres, é de resistência cultural e esse tipo de ação as insere “numa batalha em forma de movimento que vem ganhando muita força que é o combate à invisibilidade da mulher (na literatura, no mercado de trabalho e, sobretudo, no mundo intelectual, o das ideias)”, explica.

A coleção contará, em breve, com dois outros títulos, que já entraram em produção: cascos e crinas sobre fundo escuro, de Conceição Bastos, e Relíquias de Anjo, assinado por Deise Assumpção, ambas poetas de Mauá. Os lançamentos serão no dia 26 de agosto, na Alpharrabio.

A obra de Deise conta com poemas que refletem vivência muito significativa e forte, que transfigurou pela linguagem. “E tem tudo a ver com esse lugar do qual somente a mulher é capaz de falar”. Para ela, participar de uma coleção que envolve apenas mulheres é gratificante, “principalmente no momento atual, quando percebemos surgirem vários grupos e movimentos com o objetivo de mostrar que a mulher tem muito a dizer por meio da literatura, e o faz com propriedade, assim como em outras artes e áreas”, diz.

Conceição, que aposta em oito poemas na obra, sente-se parte de bom número de mulheres que fazem a literatura hoje – na região e no Brasil. “Ainda não temos o espaço devido, mas continuamos conquistando. Sou uma nordestina lá do interior da Bahia e fiz um caminho diferente das mulheres da família ou do lugar onde nasci. A participação de cada mulher na literatura traz a história de cada uma e também um pouco da história do País.”

Em outubro PerVersas será lançada em João Pessoa, no encontro Mulherio das Letras, que reunirá centenas de escritoras de todo o Brasil. 




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