Filme retrata trajetória artística e pessoal de Ney Matogrosso, da infância à consagração, com Jesuíta Barbosa no papel principal e 17 músicas na trilha sonora
“Um tanto quanto libidinoso”. Esta é a frase que um dos agentes censuradores da ditadura militar brasileira na década de 1970 diz para um jovem Ney Matogrosso, interpretado por Jesuíta Barbosa (Tatuagem, Praia do Futuro), na cinebiografia do cantor, intitulada Homem com H. Usadas para reprimir o show do artista, as palavras refletem bem tanto a trajetória artística e pessoal de Ney, quanto o conjunto de imagens levadas à tela grande no longa dirigido e roteirizado por Esmir Filho (Os Famosos e os Duendes da Morte), que estreia hoje no circuito de cinemas da região – as redes Cinemark, Cinépolis e UCI fazem a exibição local, a exemplo do Cine Araújo, em Mauá.
O longa acompanha a vida do cantor desde a infância na cidade de Bela Vista (MS), passando pela consagração nos palcos com os Secos e Molhados, até os anos de maior afirmação artística e afetiva. O filme recria momentos emblemáticos da carreira e da intimidade de Ney de Souza Pereira, nome de batismo do artista. Homem com H traz à tela os conflitos familiares de Ney, especialmente a relação com o pai (vivido por Rômulo Braga), que não aceitava seu comportamento fora dos padrões convencionais da masculinidade.
A saída de casa ainda jovem marcou o início de uma jornada que o levaria a São Paulo, onde, ao lado de João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), formaria os Secos e Molhados – grupo que redefiniu a música brasileira nos anos 1970 com performances teatrais e figurinos andrógenos. “Dizem e escrevem muita coisa ao meu respeito que é loucura, que é mentira. Nesse filme não pode ter mentira, tudo que a gente colocar tem que ser verdade. E fiquei satisfeito quando assisti, porque tudo que está ali é verdade”, afirmou Ney, em entrevista coletiva sobre o longa acompanhada pelo Diário, que contou também com exibição do filme.
A narrativa ainda revela aspectos íntimos da vida do artista, incluindo os relacionamentos com Cazuza (Jullio Reis) e Marco de Maria (Bruno Montaleone), este último seu companheiro por mais de uma década. No elenco, destacam-se ainda Hermila Guedes, como Beíta, mãe de Ney; Carol Abras, Lara Tremoroux e a cantora Céu, no papel da vedete Elvira Pagã, além da principal estrela, Jesuíta Barbosa. “A gente, já próximo dessa coisa do filme, esteve junto algumas vezes na minha casa, e eu olhava, eu vi, ele estava observando, ele já estava trabalhando”, comentou Ney sobre o ator que o interpreta.
Ambientado em um Brasil sob o regime militar, o longa aborda ainda a repressão política e social que marcou o período e que contrastava com a liberdade estética e comportamental de Ney Matogrosso. Jesuíta Barbosa aparece em cena com figurinos inspirados no teatro Kabuki e nas referências animalescas características do cantor, em momentos que resgatam turnês marcantes como a de Bandido (1976), retratada no pôster do filme.
“Tentamos trabalhar Ney Matogrosso a partir de um lugar muito cheio de integridade, que acho que é o que representa o Ney da melhor forma, essa coisa íntegra que ele tem. Nossa vontade era de produzir uma força e uma energia que partisse de algo próprio e fosse meu também, então existia a figura, o enigma e o mistério do Ney que precisava ser reproduzido. É uma representação de uma força que existe”, disse Jesuíta no evento.
A trilha sonora inclui 17 fonogramas originais de Ney Matogrosso, entre eles, sucessos como Rosa de Hiroshima, Sangue Latino, Bandido Corazón, Encantado e Homem com H, tornando o projeto uma das cinebiografias com maior número de canções do próprio biografado na história do cinema nacional, segundo a produção do filme.
O cantor chegou a dublar algumas cenas do filme. A produção é da Paris Entretenimento, com distribuição da Paris Filmes, e teve apoio da RioFilme por meio do edital de Cash Rebate de 2023, da Prefeitura do Rio de Janeiro.
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