Madonna lança disco cheio de contestações

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Vinícius Castelli <br> Do Diário do Grande ABC

Coragem para fazer – e dizer – o que lhe dá na cabeça não é novidade quando o assunto é Madonna. Conhecida como ‘rainha do universo pop’, a artista norte-americana é muito mais do que esse forte título. Tanto que tinha tudo para seguir sua vida na tranquilidade, na zona de conforto, lançar um ‘disquinho’ qualquer – típico de tantos artistas enlatados – e faturar fortuna, inclusive quando falamos de uma artista que, por muitas vezes, já colocou o dedo nas feridas e fez diversos questionamentos sociais, com relação à igreja e ao patriarcado, por exemplo.

Mas Madonna é inquieta, incansável e está viva. Prova disso é seu novo título, Madame X (Universal Music), 14º de estúdio, já disponível nas plataformas de streaming e que ganha vida ilustrada por 15 canções inéditas.

Musicalmente, a artista segue improvável, plural, como de praxe. Chegou a dar alguns indícios do que poderia ser seu novo trabalho. Mas quando apresentou, de fato, chocou. Há reggae, reggaeton, hip hop e música de discoteca com boas pegadas. Em um primeiro momento, as canções podem parecer não ter ligação. Mas quando a obra é apreciada de forma macro, tudo funciona muito bem.

A dançante Medellin abre o repertório e conta com participação do colombiano Maluma – ele volta em Bitch I’m Loca –, possível estratégia para chegar a um público mais jovem. Além do latino, a carioca Anitta é outra que participa e canta em Faz Gostoso. Para os ouvintes estrangeiros pode até ser curioso o funk com misturas de samba. Mas para os brasileiros não há novidade na receita.

Batuka merece destaque. Madonna se envolve em batuques afro e usa coro feminino. No disco, aliás, a cantora aposta em texturas orgânicas – pessoas tocando e cantando ao invés de diversos recursos eletrônicos –, algo a se louvar nos dias atuais, em que tal medida anda tão esquecida, inclusive no mundo pop.

A cantora mantém sua receita clássica, dançante, é claro. Mas diferentemente de boa parte dos artistas – principalmente os veteranos –, ela se permite mostrar o que absorve em seu dia a dia. Como trocou os Estados Unidos por Portugal para viver, coloca fado – estilo musical tipicamente português – na canção Killers Who Are Partyng. Além disso, ousa cantar alguns trechos em português. De uma sensibilidade incrível.

É claro que a produção é impecável, assim como a construção das músicas. Mas é o que a artista diz que mais chama a atenção. Dark Ballet traz fortes críticas à Igreja Católica e ao patriarcado. No vídeo Madonna apresenta o rapper negro, ativista, transgênero e soropositivo Mykki Blanco queimando como Joana D’Arc – morta em praça pública em 1431, acusada de heresia. E na letra Madonna diz: ‘Deus está do meu lado e eu vou ficar bem/Eu não tenho medo porque eu tenho fé em mim/Você pode cortar meu cabelo e me dizer que sou uma bastarda/Diga que sou uma bruxa e me queime na fogueira’.<EM>

Em God Control ela não mede palavras para criticar sistemas políticos e falta de oportunidades. Na já citada Killers Who Are Partyng, ela toma partido e estende a mão às minorias e aos massacrados. Fala da exploração infantil, da África, dos gays, das mulheres, sobre estupro e a selvageria do mundo. Enquanto tantos e tantos não saem de cima do muro e seguem suas vidas tranquilamente, Madonna coloca suas luvas de pelica e dá tapas na cara de quem precisar. Mais do que necessário.  




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