Livre, leve e solta

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Miriam Gimenes

Thelma Assis, médica anestesiologista que ganhou o ‘BBB 20’, fala sobre as mudanças que chegaram com o programa, a importância das discussões que o reality propõe e a vontade de ser mãe.

Era o início da tarde de 21 de janeiro de 2020 quando a médica anestesiologista Thelma Assis, 36 anos, cruzou uma porta que iria mudar sua vida. Não era a de um emprego recém-conquistado em hospital – até porque, no momento ela já contava com quatro, um deles no Hospital de Clínicas de São Bernardo – ou a entrada em uma nova casa. Sim, era um ‘lar’, mas um tanto diferenciado e passageiro: o Big Brother Brasil 20, da Rede Globo. O que ela não imaginava, no entanto, é que aquela ‘mudança’ seria determinante na sua trajetória. De lá saiu, depois de mais de três meses confinada, com amigos para vida toda e uma conta bancária recheada, já que foi presenteada pelo público com o título de campeã da edição.

“Sinto muito orgulho de tudo que aconteceu, de ter feito parte de uma edição tão falada, além de toda minha trajetória (lá dentro), de ter entrado pela Pipoca, com pouquíssimos seguidores, totalmente anônima, e de não ter duvidado da minha capacidade de ganhar frente a este cenário de jogo. Eu fui uma jogadora que jogou com coração, com princípios, não de forma racional. Não me arrependo de nada que fiz lá e foi isso que gerou a identificação com o público. Quando saí assisti à minha edição de novo e, para mim, o maior prêmio é esse, você ter orgulho do que fez lá dentro, do reconhecimento das pessoas”, analisa. Ela entrou com 1.000 seguidores nas redes sociais e hoje já tem 6,1 milhões. 

A notoriedade e o reconhecimento trouxeram consigo, completa, a responsabilidade. “Quando você sai cai essa ficha, dessa responsabilidade. Todas as vezes que compartilho um conteúdo me preocupo muito com isso, do quanto uma atitude minha pode influenciar as pessoas.” Tanto que a vigília ao que ela faz, acrescenta, é muito maior, fator que, por algumas vezes, gerou situações inconvenientes. 

É que ao sair do reality não só ela como os outros participantes se depararam com uma realidade inimaginável: a pandemia do coronavírus. Thelma diz ter ficado isolada o quanto pôde e, ainda assim, foi infectada pelo vírus em novembro. Recuperou-se e, no fim do ano, junto com as amigas do BBB, Rafa Kalimann, Manu Gavassi e a atriz Bruna Marquezine, viajou para uma ilha, onde também estavam isolados. Mas, é claro, surgiram críticas. 

Uma delas foi do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), que a criticou pela viagem por meio de suas redes sociais. Thelma o acionou na Justiça. “Assim que saí do BBB fiz uma campanha pedindo para as pessoas ficarem em casa, em maio do ano passado, na fase mais restrita da pandemia. Em meados de agosto a campanha teve uma repercussão tão boa, a fiz novamente, junto com David Uip (médico). Dizia às pessoas que estavam flexibilizando, que tivessem consciência e não aglomerassem. Quando foi no final do ano a gente não estava em fase vermelha de restrição, porque se tivesse eu nem teria saído de casa. Todo mundo que estava na ilha, principalmente nós três, vivemos um ano muito importante para gente, desde o BBB até o Revéillón e eu nunca tinha saído de casa para encontrar ninguém, nem da minha família. Queríamos viver algo junto, mas não dar essa repercussão negativa”, explica. 

Segundo ela, tomou a decisão de consciência tranquila e não se arrepende, porque seguiu os protocolos. “Políticos, como o filho do presidente, têm o costume de gerar cortina de fumaça. O objetivo não era me atingir, mas algum adversário dele e descontextualizou totalmente a campanha que fiz. E foi uma crítica que veio só para cima de mim também, como se eu fosse a única que estivesse lá. Isso mostra a índole das pessoas que ganham em cima de fake news”, critica a médica. O processo que ela moveu pede que ele retire as postagens que fez e ainda tramita na Justiça. 

Mas a fama não lhe apresentou apenas o ônus. Thelma, que tem origem humilde, foi adotada aos três dias de vida, estudou por meio do Prouni (Programa Universidade para Todos), na PUC de Sorocaba, fez participações como apresentadora no programa É de Casa, da Globo e foi contratada para diversas campanhas, além de ter virado influenciadora da L´Oréal Paris. 

Nem por isso deixou de atuar no seu ofício. Quando houve o colapso na saúde de Manaus, com falta de oxigênio e diversas pessoas morrendo em razão do coronavírus, arrumou suas malas e foi ajudar. Junto com outros famosos, fez uma campanha para doação dos suprimentos hospitalares. “Mesmo sendo da área da saúde é muito difícil ver uma situação em que faltam insumos, falta kit entubação, sei o quanto tudo isso é importante. Me surpreendi com a força dos profissionais que trabalharam comigo, tivemos uma troca bem bacana. Para eles a minha ida até lá, alguns me relataram que serviu como uma injeção de ânimo e isso é muito gratificante. E nesta experiência, como ser humano, a gente aprende a valorizar a saúde, a vida, familiares e entender que um momento de pandemia tem de respeitar o que está sendo dito pela ciência, senão não vamos sair dessa situação nunca”, alerta.

‘BBB’

Thelma diz ter saudade da vivência que teve na casa. Lembra que antes de entrar lá contou para os colegas de São Bernardo que ia se mudar para o Interior e que gostava muito de trabalhar na região. “Foi uma mentira do bem, já que o processo do BBB era sigiloso. Tenho muito carinho por toda equipe de lá (São Bernardo).” 

A médica diz estar acompanhando a atual edição do reality e acha que este tipo de programa é muito importante para discutir as situações comuns na sociedade. “Acredito que já houve época que BBB era sinônimo de futilidade. Fico muito feliz de que hoje a imagem do programa mudou, leva discussões que têm tudo a ver com sociedade. Eles conseguem colocar lá dentro diversos representantes. Se tem machista lá dentro, por exemplo, tem aqui fora. Cabe às pessoas saírem das suas bolhas e entenderem o que está sendo discutido, de forma consciente, respeitosa.”

A questão racial, tão falada por ela e Babu Santana em sua edição, voltou à tona nesta, após comentário que Rodolffo fez sobre o cabelo de João, que usa black power. “Vivemos o racismo estrutural diariamente e também outras formas de racismo,  como o ‘recreativo’, que aconteceu dentro desta edição. São feridas que a gente tem. As pessoas resolvem polemizar com esse discurso do ‘mimimi’, mas é falta de empatia, porque não podem falar do que não viveram. Chega até a ser um paradaxo, porque, quando vem um movimento dos Estados Unidos, o  ‘Vidas Negras Importam’, sobem hashtags na internet, como se isso fosse resolver o que a gente vive no dia a dia. Mas quando minimiza a dor de um racismo recreativo você também é conivente.” A piada, acrescenta, pode terminar em crime. 

E quem ganha esta edição? “Quem ganha eu não sei, mas minha torcida vai para o Gil. Ele torceu por mim, falou muitas vezes da minha trajetória dentro do programa, me identifico e torço muito por ele.” Voltaria a um reality? “Acho que não. Minha família sofreu muito com a minha estadia. Foram muitas críticas, fui alvo de hacker, racismo... Pela minha família não voltaria, mas se o Boninho (diretor) me ligasse, fazendo uma edição só com campeões, ficaria tentada (risos).”

Para o futuro Thelma diz que quer conciliar uma carreira como comunicadora e realizar o sonho da maternidade. “Quem sabe não tenho um programa próprio?”Se depender de sua força e determinação o céu é o limite.

 



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