O terror da insônia

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Erica Gonsales

Quase metade da população sofre de algum tipo de distúrbio ao dormir

Todo mundo já passou por noites difíceis, em que o sono parece nunca chegar ou simplesmente foge no meio da madrugada. Segundo a Associação Brasileira do Sono, quase metade da população sofre de algum tipo de distúrbio ao dormir. Principalmente a implacável insônia. Médicos especialistas no tema garantem que a maioria dos adultos já se viu contando carneirinhos em algum momento da vida. Além de acarretar diversas consequências desagradáveis – desde mau humor e baixa produtividade até doenças mais graves, como obesidade –, deixar de dormir é um sinal de que a saúde não vai bem. 

Depressão, ansiedade e estresse são as causas mais comuns. “O surgimento desses distúrbios pode estar relacionado ao estresse presente no dia a dia dos brasileiros, que faz com que as pessoas durmam cada vez menos e, mesmo quando dormem, não possuam um sono revitalizador”, afirma Renata Federighi, consultora de sono da Duoflex. 

Existem três tipos de insônia: a de não conseguir dormir, a de quando se desperta muito cedo ou a que faz acordar várias vezes durante a noite. A novidade é que estudos recentes comprovam que a dificuldade em pregar o olho deixou de ser o tipo mais comum de insônia. Especialistas do Instituto do Sono, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), desenvolveram estudos indicando que atualmente a principal reclamação de quem sofre de insônia é a desconfortável situação de acordar várias vezes durante a noite. Há mais gente levantando da cama no meio da madrugada, buscando distração na TV, na leitura ou na internet – atividades que podem até ajudar a passar o tempo, mas atrapalham a qualidade do descanso. “A busca pela manutenção do sono é desafio unânime para os profissionais da área. Se antes tínhamos a preocupação de fazer com que o paciente iniciasse a noite de sono, hoje a nossa missão vai além: trabalhamos para que esse indivíduo não acorde várias vezes durante a madrugada. Nesse contexto, é importante adotar o controle adequado para as duas frentes – início e manutenção do sono”, explica Dalva Poyares, neurologista e pesquisadora do Instituto do Sono.
 
ATIVIDADE DE MAIS, SONO DE MENOS
A rápida mudança nos costumes da sociedade é apontada como o principal motivo para termos cada vez mais dificuldade para descansar adequadamente. Nossa rotina é regida por um ritmo estressante, cheio de estímulos pela evolução tecnológica, em que estamos conectados o tempo todo. O resultado é alimentação inadequada, ansiedade e sedentarismo.
 
Pode ser normal ter episódios de insônia, mas quando ela dura mais de três semanas seguidas é hora de procurar tratamento. Para os insones crônicos, a falta acumulada de sono reduz a qualidade de vida e causa problemas de saúde, depressão, redução do desempenho no trabalho e até acidentes de trânsito. 
 
Foi justamente quando bateu o carro que a produtora cultural Luanda de Moura decidiu se tratar. “Depois de passar dois dias inteiros sem conseguir dormir, estava indo para uma festa e acabei dormindo no volante”, lembra ela. “Minha insônia durou uns seis anos. O dia amanhecia e ainda estava acordada. Em vez de rolar na cama, eu pegava um livro ou passava horas batendo papo com notívagos na internet. Ficava chata, de mau humor, brigava com muita gente”, confessa Luanda. 
 
A solução para o problema veio em diversas frentes. A começar por uma série de testes e tratamento no Instituto do Sono. “Servi de cobaia em uma pesquisa e passava a noite inteira lá”. A terapia de Luanda consistia em olhar fixamente para uma luz de mercúrio durante 20 minutos. “Mas depois fui procurando outras coisas: florais, psicanálise, ioga, que ajudaram muito. A maturidade também foi me deixando menos ansiosa”, reconhece.
 
Existe um exame que pode detectar até 87 distúrbios do sono. É a polissonografia. Durante uma noite, a pessoa é avaliada enquanto dorme, com 22 sensores espalhados pelo corpo. Eles enviam informações sobre estágios do sono, frequência cardíaca, oxigenação do sangue, movimentos do corpo, fala etc. 
 
O sono é dividido em quatro estágios
FASES
O sono é fundamental para a saúde, tanto física quanto mental. “Durante a noite, acontece a troca e regeneração celulares, além da liberação do GH (Hormônio do Crescimento), que ocorre principalmente nas fases mais profundas do sono.  Ele também produz a serotonina, hormônio responsável pela sensação de prazer, e impede a acumulação de cortizol, que melhora o humor e a disposição. Da mesma forma, o sono aumenta a sensibilidade à leptina, hormônio responsável por informar ao organismo a ausência da fome”, explica a especialista Renata Federighi. 
 
O neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, autor do livro Você Sabe Como Seu Cérebro Cria Pensamentos?, enfatiza a importância de dormir mais que seis horas durante a noite. “A curto prazo, a insônia é um problema porque atrapalha sua performance no dia a dia. Mas a longo prazo ela vai comprometer sua inteligência também”, alerta.
 
O tempo dormido é relevante para que se alcance os cinco estágios do sono. Cada um deles tem duração média de 90 minutos. O primeiro é uma fase transitória, entre vigília e sono, quando somos facilmente acordados. O segundo é mais longo, e pode ainda ser superficial. Nele, os movimentos oculares e as ondas cerebrais ficam mais lentos. A temperatura do corpo e a frequência cardíaca também diminuem.
 
O terceiro e o quarto estágios são os de sono mais profundo, quando os músculos relaxam de verdade. “Nessa etapa, o cérebro está desligado e o corpo tem queda no metabolismo. A velocidade do fluxo sanguíneo é reduzida com o objetivo de recuperar as energias gastas durante o dia&


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