A dona do pedaço

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Miriam Gimenes

Juliana Paes, que se prepara para estrear a protagonista da próxima novela das 21h, da Rede Globo, mostra toda sua versatilidade no mundo das artes

Bolo de avó tem um sabor especial. É só puxar na memória os tempos da infância que o aroma exalado no forno, principalmente aos domingos, passeia pelo ar. E foi de olho neste ‘segredo’, que só quem teve o privilégio de conviver com os avós guardam, que Maria da Paz, personagem de Juliana Paes, conseguiu fazer valer seu sonho. A protagonista de A Dona do Pedaço, novela que estreia dia 20 na Globo, de Walcyr Carrasco, aprendeu a confeccionar bolos com a avó Dulce (Fernanda Montenegro) e fez disso sua profissão. Para tanto, Juliana, versátil que é, fez curso de confeitaria para aprender a colocar, de fato, a mão na massa. Uma alusão à mensagem da novela, que quer mostrar a intensidade do poder feminino. 

A atriz, que completou há pouco 40 anos, celebra este momento da carreira. “Não quero parecer pedante, mas depois que entendi a força do título da novela personificado em um personagem, percebi que é uma identificação forte porque a personagem fala muito de um espírito batalhador, aguerrido do povo brasileiro; é a dona do pedaço que existe em cada um de nós, principalmente nas mulheres.” Essa força faz com que ela se emocione ao falar da personagem. “Porque eu tenho certeza que em cada mulher existe uma Maria da Paz que, por alguma situação, teve que abrir mão de algo para poder conquistar seus objetivos, ganhar a vida, sem medo de enfrentar o trabalho, que acredita que trabalhar, pegar no batente, independentemente do trabalho, não é vergonha. Essa história é bonita e eu tenho um pouco disso na minha história de vida, na minha família, enfim, todo mundo já viveu um pouco disso”, analisa.

Juliana se refere à sua origem humilde. Após um acidente que seu pai sofreu, o que resultou em um traumatismo craniano, abriu falência de uma empresa de segurança que tinha. A família perdeu tudo e demorou para se reerguer. A Maria da Paz também não tem muitos recursos e vive na cidade fictícia de Rio Vermelho, no Espírito Santo. Ela é de uma família de justiceiros profissionais, os Ramirez, e se apaixona por Amadeu (Marcos Palmeira), advogado formado em Vitória e integrante da principal família rival nos negócios, os Matheus. A obra, dividida em um prólogo e duas fases, traz uma história de amor com elementos de um dos maiores clássicos da literatura mundial: Romeu e Julieta, de William Shakespeare, sem perder de vista o humor, que passeia por toda a trama e  fala de coragem e esperança. 

Entre as maiores dificuldades que enfrentou ao gravar os primeiros capítulos, ela cita as passagens de tempo. “Estou usando esticadores no rosto para viver a primeira fase. E isso há um tempão. Pela primeira vez vou viver uma personagem mais jovem do que eu e depois, na fase contemporânea, uma pouco mais velha do que eu, com cerca de 45 anos. Isso é desafiador, mas ao mesmo tempo me motiva saber que me deram a chance de viver essa personagem, saber que a emissora vê em mim uma atriz com respaldo artístico para viver a personagem, isso me enche de alegria e entusiasmo. Outra coisa desafiadora é ter uma filha na ficção com 20 anos. Meus filhos têm 8 (Pedro) e 5 anos (Antônio). Não vivi ainda essa experiência de ter uma filha nessa idade. A parte de gerenciar uma empresa eu pude experimentar, tenho uma veia empreendedora. Estou estudando bastante, me preparando bastante, lendo biografias de mulheres fortes, Michele Obama, Mary Kay”, cita. Também se dedicou a aulas de confeitaria a fim de se tornar uma exímia boleira, que começa vendendo as iguarias nas ruas e depois se torna uma empresária de sucesso. “Já sabia o básico e, com as aulas, aprendi várias dicas: quebrar o ovo com uma mão só, colocar uma colher de creme de leite no brigadeiro para aumentar cremosidade, usar o papel toalha para untar a forma. Aprendi a fazer um bolo de abacaxi maravilhoso, mas o meu favorito é o bolo de banana.” 

Mas não é só de açúcar que viverá a personagem. Maria travará grande embate com sua filha Josiane, vivida por Agatha Moreira. “Acho que todas as relações conflituosas são bem-vindas para o ator. Quando leio as coisas que a Josiane vai fazer fico chocada. Essa personagem deve ter alguma patologia. Ela não pode odiar a mãe tanto assim. Sou tão grata pela minha mãe... Não consigo imaginar, mas isso existe. Da mesma forma que existem mulheres que não têm instinto maternal, existem filhos que não têm conexões com suas mães. Vamos trazer essa discussão às pessoas. Novela é entretenimento, mas também é prestação de serviço quando promove essa discussão e reflexão. Educar é uma tarefa difícil e para quem trabalha muito tempo fora, longe dos filhos, é angustiante, dá medo”, confessa. 

A atriz diz ser muito cuidadosa com os filhos e tenta sempre manter o equilíbrio. “Tento pegar os ensinamentos das gerações passadas sem me desconectar com o mundo moderno. Meus pais me deixavam de castigo e tinham alguma dificuldade de demonstrar afeto. Eu já consigo balancear esses dois pilares do castigo e afeto. E tento responder aos meus filhos as perguntas que me fazem. Dia desses, por exemplo, me perguntaram o que era alma”, conta, aos risos. Os meninos são frutos do casamento de Juliana com Carlos Eduardo Baptista, com quem está desde 2008. 

 

PARCERIA

Esta não é a primeira vez que Juliana contracena com Marcos Palmeira. São amigos de longa data. “Fizemos Celebridade e contracenamos no episódio A Justiceira de Olinda, da série As Brasileiras. Nós nos divertimos à beça. Ele é generoso e sensível, sabe ouvir o colega. É muito gostoso trabalhar com ele”, comemora. A história de amor dos dois, acrescenta, não é vivida. “Então, a promessa de amor é muito forte, ele não chega a ser vivenciado em sua plenitude. Todo amor que é uma promessa vai para o campo do sonho, do perfeito. E o amor de Maria e Amadeu é forte porque é a promessa do que poderia ter sido. E isso fica muito forte nesse primeiro momento. Estamos vestindo a camisa do melodrama, sem vergonha do amor.” Maria e Amadeu são dois corações solitários que se juntam por amor, precisam um do outro para viver. E, de repente, esse amor é interrompido. E é em cima disso que a trama correrá. 

A atriz diz que existe na personagem a doçura e a inocência da Julieta, de Shakespeare, mas talvez ela não seja tão resiliente. “Ela não aceita aquela imposição, não aceita o rompimento, a morte do amor; ela propõe um pacto entre as famílias e ele quer que parem as matanças para viver seu grande amor. Nesse sentido, ela é uma força desde muito jovem e acredito que seja essa força que a faça criar um império no futuro. Já vem com vontade de realizar”, adianta Juliana, que está de acordo com o que diz o autor da novela, Walcyr Carrasco. “Acredito que as pessoas podem subir na vida utilizando aquilo que já sabem, um dom, e a vontade de lutar e trabalhar. Traz a certeza de que todos podem encontrar seu lugar no mundo”, ressalta o dramaturgo. 

CURRÍCULO

Juliana também já foi protagonista de Walcyr em outra ocasião: no remake Gabriela, de 2012. “Já conheço você de Gabriela e, agora, estamos trabalhando de novo em A Dona do Pedaço. Pelo que vi das cenas gravadas, você está arrasando. Não é só um encontro de trabalho, é artístico e pessoal porque eu gosto de você, e acho que gosta de mim”, disse na ocasião do aniversário da atriz, em março.

O fato é que ela exala simpatia. Desde que apareceu pela primeira vez na televisão, em Laços de Família, de Manoel Carlos, no ano 2000, conquistou o público –  antes disso foi figurante em Malhação, quando tinha 19 anos, trabalhou como modelo comercial, recepcionista e distribuiu panfletos em feiras. Da Ritinha, de Manoel, até a Maria da Paz, fez sucesso com a Jacqueline de Celebridade (2003), Creusa, de América (2005), Maya, de Caminho das Índias (2009), Maria Catarina, de Meu  Pedacinho de Chão (2014), Carolina, de Totalmente Demais (2014), Zana, de Dois Irmãos (2017) e, por fim, a arrebatadora Bibi Perigosa, de A Força do Querer (2017). 

São 20 anos de carreira. O que difere a Juliana de Laços de Família para a Juliana de hoje? “Sou a mesma menina determinada e autocrítica, mas hoje mais madura e segura do meu lugar no mundo.” Não teria como escolher outra protagonista para uma novela que leva este nome.

 

 




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