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Caroline Manchini
Fobia social, caracterizada pelo medo excessivo de enfrentar situações sociais, afeta entre 1% e 2% da população brasileira
Sofrer por algo que ainda não aconteceu, ter medo de ser avaliado por outras pessoas ou até desistir de passeio com amigos e familiares só porque terá de enfrentar situações em que estará exposto são as principais características de quem tem fobia social, também conhecida como transtorno de ansiedade social. De acordo com dados do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, levantados em 2017, cerca de 13% da população brasileira convive com o problema, ou seja, 26 milhões de pessoas. Apesar do número alarmante, o psiquiatra Mario Louzã acredita que a quantidade de diagnósticos do tipo mais grave é menor. “Os dados epidemiológicos de qualquer livro de psiquiatria mostram que o transtorno afeta entre 1% e 2% dos brasileiros. Se somarmos todos os casos talvez a quantidade seja superior, mas se pensarmos nos que realmente são muito prejudicados o número cai.”
Mesmo assim, é algo a se preocupar. A fobia social é caracterizada pela extrema dificuldade de enfrentar situações sociais das quais a pessoa está, de alguma forma, exposta. Tarefas simples como ir a um restaurante, frequentar festas, falar em público, apresentar trabalhos acadêmicos ou relatórios e até mesmo assinar um cheque na frente de outras pessoas, que possam observar a ação, são verdadeiros pesadelos para quem sofre com o transtorno. Nessas ocasiões, em que está sendo observado ou avaliado, o fóbico social apresenta diversos sintomas físicos associados à ansiedade e ao medo da exposição. Entre eles taquicardia, angústia, tremor, gagueira, sudorese, boca seca, tensão muscular, rubor facial e náusea. “Essa timidez extrema prejudica o dia a dia da pessoa. Ela começa a ter limitações e evita momentos sociais, o que chamamos de esquiva fóbica”, esclarece Louzã.
Foi exatamente o que aconteceu com a dona de casa Rute Teixeira, 48, que sofre com o problema desde a adolescência. “Tenho medo e me sinto mal quando estou com pessoas desconhecidas. Simplesmente não vou aos lugares, porque sei que passarei mal. Isso me prejudica muito, já que preciso estar sempre acompanhada de um conhecido para fazer algo”, conta. Ela relembra ainda das dificuldades que enfrentou na época em que estudava. “Quando tinha de apresentar trabalho na escola eu não conseguia e ficava sem nota.”
É geralmente nesse momento da vida, no qual o indivíduo passa a se deparar frequentemente com situações sociais – nas quais terá de se expor –, que os sintomas começam a aparecer. “Normalmente descobre-se, nas avaliações, que a pessoa já era uma criança tímida e introvertida e esses traços de personalidade vão se acentuando com o tempo, desenvolvendo a fobia”, afirma o especialista. Diferentemente daqueles que têm ansiedade e, conseguem enfrentar ocasiões de exposição, o medo extremo que assombra o fóbico social faz com que ele não realize determinadas tarefas e se isole constantemente, prejudicando tanto a vida pessoal quanto profissional. “É situação crônica que pode impedir a pessoa de conseguir bons empregos, já que vai se retrair até nas entrevistas”, diz o psiquiatra.
Além disso, o transtorno de ansiedade social pode desencadear outras doenças. Depressão e alcoolismo são as primeiras da lista. O quadro depressivo surge em função das frustrações recorrentes, por conta do desempenho social negativo. “Tomava calmantes e ficava bem por determinado tempo, depois os sintomas voltavam e entrava em depressão”, conta Rute, que suspendeu o uso dos medicamentos. Já o problema com álcool está associado à desinibição. “Em uma balada, por exemplo, o fóbico social ficará menos tímido e travado se ingerir álcool e esse recurso começa a ser utilizado em todas as situações, porque ele conseguirá fazer coisas que sóbrio não faria”, afirma Louzã.
Para tratar a fobia social o profissional especializado – psiquiatra ou psicólogo – treina o indivíduo a se expor, porque dessa maneira aprenderá a enfrentar o próprio transtorno. Em alguns casos a psicoterapia é somada à medicação de antidepressivos ou remédios que tenham ação calmante e diminuam a ansiedade. “O uso de medicamentos pode ajudar um pouco, mas não é o tratamento principal e ideal. Os treinamentos são mais importantes”, aconselha o psiquiatra. Durante o processo é fundamental que o paciente não fuja e enfrente as situações ameaçadoras. Ajuda médica, portanto, é essencial. O quanto antes, melhor
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