Amor que não se mede

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Miriam Gimenes

Uma das queixas que mais tenho ouvido de amigas solteiras é da dificuldade de encontrar um companheiro para dividir a responsabilidade de ter um filho. A falta de tempo, de vontade, de paciência e, principalmente, as atribulações profissionais têm feito cada vez mais as pessoas colocarem a maternidade/paternidade em último plano. Só que, para algumas mulheres, ser mãe não é apenas um plano, mas sonho de vida. E o tempo – leia-se corpo – feminino corre em outro compasso.

A fim de encorajar aquelas que passam por essa situação, a terapeuta infantil Denise Dias, 37, acaba de lançar o livro Produção Independente – Diário de uma Terapeuta Infantil em Busca da Maternidade (Matrix Editora, 152 páginas, R$ 29,90, em média), no qual conta sua experiência de ter um filho sozinha. Ela, que nunca desconsiderou a possibilidade de fazer uma produção solo, congelou os óvulos quando tinha 34 anos e se submeteu a uma fertilização in vitro (de um doador desconhecido/banco de sêmen) e o resultado hoje ela carrega no colo: o pequeno Rafael, que já completou 9 meses.

A decisão, contada em detalhes na publicação – idealização da maternidade, processo, reação de parentes e amigos, primeiro encontro com o filho –, foi tomada justamente por conta da complexidade de achar pessoas a fim de relacionamento responsável. “Os adultos não estão disponíveis para se doar a um namoro. Um relacionamento requer oferecer satisfação, diálogo aberto, uma série de situações. Se não está disponível em se doar para um outro adulto, quanto mais para um filho”, analisa.

E, ter um companheiro, ainda que esse relacionamento não seja bom, só para ter um filho, nunca foi uma possibilidade cogitada por ela. “Vejo que para criança ser feliz ela precisa que o ambiente em casa esteja em paz. A criança que cresce em um ambiente onde só há confusão, briga, ofensas, estresse não vai alcançar isso. Meu filho não vai crescer com um modelo negativo de casamento, que é o que infelizmente muitas crianças passam.”

Até agora, passados nove meses desde que o pequeno nasceu, ela disse só ter desfrutado das delícias de ser mãe solo, não houve ‘dores’. “O fato de ser mãe sozinha por opção é muito bom, porque você decide tudo, é do seu jeito, não tem ninguém em casa enchendo a paciência, que mais atrapalha do que ajuda.” A sua única preocupação, até pelo fato de ser autônoma, é a questão financeira. Mas ela pensa lá na frente. “O Rafael já tem previdência privada e também tem tutor. Acho que são questões que mãe solo tem de pensar: ‘Se algo acontecer comigo, quem vai criar?’ Tem de ter esse senso de responsabilidade.”

E se um dia ele perguntar quem é o pai biológico ela responderá sem titubear: “Direi sempre a verdade. Quem monstrualiza as coisas é o adulto. A criança simplifica tudo”. O mais importante, acredita, é nunca faltar o ingrediente que a fez tomar essa decisão e só cresce, a cada dia: o amor, que, segundo Gandhi, é a força mais sutil do mundo.




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