causa e efeito

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Miriam Gimenes

Sergio Guizé e Bianca Bin, de 'O Outro Lado do Paraíso', que estreia este mês, vão mostrar que a lei universal do retorno vai além de quaisquer explicações

Ainda que John Lennon tenha almejado que as pessoas vivessem só o presente quando escreveu uma de suas mais famosas canções, Imagine, é impossível não pensar no amanhã. Não dá para deixar de lado a ideia de que o que se escolhe plantar hoje será colhido daqui um tempo, confirmando, assim, a chamada lei do retorno. “O que o homem semear, isso também ceifará”, diz trecho da Bíblia. Princípio este também constatado pela Física, pelo inglês Isaac Newton, na tal história da ação e reação. Não há motivos, portanto, para duvidar da força desta lei universal. E é justamente sobre a relação de causa e efeito que tratará a próxima novela das 21h da Rede Globo, O Outro Lado do Paraíso, que estreia dia 23 e tem como protagonistas Bianca Bin e o andreense Sergio Guizé.

Na história, Bianca, que nasceu em Jundiaí, tem 27 anos e encara pela primeira vez o protagonismo de uma novela das 21h, será Clara, moça romântica e simples que dá aulas para crianças em um quilombo no Jalapão, lugar onde mora, e ajuda o avô Josafá (Lima Duarte) em seu bar. Durante um passeio na vereda do campo do capim dourado, encontra Gael (Guizé) e os dois se apaixonam. Ele é o filho mais velho de Sophia (Marieta Severo) e, à primeira vista, vê que Clara é uma moça especial. Por isso, a pede em casamento. Após a união, os dois se mudam para Palmas.

E aí começa o inferno na vida da moça. Gael torna-se agressivo e, após armação da sogra, que tinha outros planos para o filho, Clara acaba sendo internada em clínica psiquiátrica. A fim de sair dessa situação, ela começa a mudar de personalidade e buscar justiça. Esta personagem, para a atriz, tem uma importância e tanto na atualidade. “Estamos em um momento de falar das mulheres, dessa injustiça que está entranhada na nossa cultura, esse patriarcado que a gente vive. A mulher está se empoderando, entendendo o tamanho da sua força e é isso o que quero contar com a Clara: como uma pessoa que nunca teve contato com a violência pode se empoderar e mudar essa situação. Quando a pessoa está imersa na situação, é difícil ter esse olhar de fora. É tão difícil para uma pessoa que está vivendo um relacionamento abusivo perceber que está nele. Depois que essa chave muda, o que vem é grandioso. Vou tentar honrar ao máximo todas as histórias dessas mulheres, mas sei que será um grande desafio”, prevê.

Guizé, que tem 37 anos e nasceu em Santo André, por sua vez, justifica a personalidade do personagem. “O Gael é muito intenso, totalmente emoção. Apesar de ele amar a Clara de verdade, acaba deixando que um outro lado, obscuro, do qual ele não se orgulha e até tenta fugir, apareça em alguns momentos. Ele é vítima do meio em que vive e da própria família. Ele seria um “filho da impunidade”. A partir do momento que ele conhece a Clara, as coisas que não o afetavam, começam a afetar e se torna um cara melhor. Quer passar a perceber que o lado ruim que ele tem pode afetar as pessoas que ele ama.”

Tanto contar essa história quanto ser um dos protagonistas do folhetim, para ele, são grandes responsabilidades. “A dedicação é dobrada e você não tem muito tempo para fazer outras coisas, principalmente quando se está interpretando personagens que demandam uma entrega, um aprofundamento de tudo, mas vale muito a pena. Quando temos um bom texto – adoro o trabalho do Walcyr, esse autor incrível –, direção – estou trabalhando pela primeira vez com o Maurinho, o Mauro Mendonça Filho – e colegas de equipe maravilhosos, o projeto flui da melhor forma possível. Não tem como recusar um personagem como o Gael. Além disso, estou trabalhando com grandes mestres, como o Lima Duarte, Fernanda Montenegro e Marieta Severo. É grande honra para mim.” O ator já havia protagonizado outras duas novelas – Alto Astral (2014) e Êta Mundo Bom (2016) –, ambas do horário das 18h. Mas como diz o tema da novela e o título dessa reportagem, a sua dedicação nestes e em trabalhos anteriores surtiu seu efeito.

SINTONIA

O Jalapão, local escolhido como locação para gravação das cenas iniciais da novela, ajudou, e muito, os atores para composição dos personagens. “Nunca tinha visitado o Tocantins. Já terminamos a etapa de gravações por lá e o que mais me impactou foi a paisagem. A vegetação do cerrado, a biodiversidade tão grande, as árvores e os frutos que a gente não está acostumado a ver. Fiquei encantada com o cajuí, que é um minicaju, docinho. Tenho conexão muito forte com a natureza. É energia que renova. Gravar no Fervedouro, por exemplo, não foi só um banho de cachoeira, mas bênção, limpeza. Entrar em contato com toda essa natureza fez com que eu me aproximasse mais da personagem. Consegui me conectar com a Clara por meio do ambiente, do lugar e com a atmosfera que a gente viveu ali”, diz Bianca. Guizé também destaca o clima. “O Jalapão tem força muito grande. Todos os lugares em que estive por lá têm histórias especiais. A energia me contagiou muito na hora de gravar. Ajudou na composição para o personagem, viver aquela atmosfera, conversar com as pessoas. A vivência foi essencial.”

E não é apenas a opinião sobre a locação do folhetim que eles compartilham. Os dois também tiveram de mudar de 'seus lugares' para o Rio por conta do ofício. “Adoro a cidade (do Rio) e, quando sobra um tempo, gosto de fazer programas ao ar livre, aproveitar a natureza. Me adaptei bem, mas sinto saudade da família também”, confessa Bianca. Guizé diz que sempre que pode volta para o Grande ABC. “Amo minha cidade”, completa.

Ambos, se não fossem atores, se dedicariam às artes plásticas, profissão na qual o andreense se formou na Fatea (Faculdades Integradas Teresa D’Ávila), em Santo André. Ele chegou até a expor seus quadros. “Acabei de fazer mostra individual intitulada Coração Selvagem, com curadoria de Celio Vitor Alves e foi incrível. Foi em maio junto à peça Oeste Verdadeiro, de Sam Shepard, dirigida pelo Mario Bortolotto, no Cemitério de Automóveis. A exposição foi abençoada. O nome inicial seria Coração, mas aí mudamos para Coração Selvagem porque no meio do processo de montagem o Belchior morreu (por um aneurisma na aorta). E ele foi influência muito grande para mim, na minha vida artística”. Guizé disse ainda que à época em que morava na região chegou a fazer alguns grafites. “A maioria há mais de 20 anos. Acredito que já pintaram ou derrubaram o muro para construir algo modernoso no lugar.”

SOBE O SOM

O talento artístico de Guizé, no entanto, não se restringe apenas à interpretação ou sua habilidade com os pincéis. Ele também é músico. Tanto que faz parte da banda de rock Tio Che, formada por ele (voz e guitarra), Leandro Moreti (voz e guitarra), Luthi Marques (guitarra), André Gieswein (baixo e backing) e Nego Will (bateria). “Tudo começou com uns amigos meus de colégio. Um deles que tocava acabou saindo e disse que ia apresentar um amigo dele que tinha tudo a ver com a banda. E então levou Sergio até minha casa. Na primeira vez em que a gente tocou fluiu muito bem. Ele entrou para a banda, em 2000, e começamos a escrever juntos”, lembra Moreti. Só no ano seguinte, no entanto, o quinteto ganhou nome.

Desde quando Guizé teve de ir para o Rio por conta da televisão, Moreti diz que eles têm adaptado as agendas para que o ator possa participar das apresentações e ensaios. “A gente sempre teve cumplicidade muito grande. Quando ele está no Rio, a banda vai para lá. Focamos no eixo Rio-São Paulo. Quando tem show aqui e ele não pode comparecer, a gente acaba fazendo sem a presença dele, o que não pode é parar. Não é fácil, mas o amor à arte, à banda e a amizade que a gente tem um com o outro – nós somos melhores amigos –, isso conta muito. É isso o que deixa a banda viva, forte e pulsante.”

Nas palavras de Guizé, eles seguem “firmes e fortes”. Diz que acabaram de gravar e estão em fase de masterização do novo disco, chamado Tudo Sagrado, que deve ser lançado até o fim do ano em São Bernardo. “O Tio Che já tocou duas vezes no Festival de Cultura promovido pelo Diário. Uma delas foi no (Espaço Verde) Chico Mendes, que não puder participar, e o outro foi um show incrível no Parque Central, em que tocamos antes do Golpe de Estado, que é banda que lembro que eu ia ver sempre na frente do Américo (Brasiliense). Santo André era bem ativo culturalmente. Foi maravilhoso.” A sua paixão pela música, acrescenta Sergio, é herança do pai, Salvador Parra, quem o ensinou a tocar violão quando tinha apenas 5 anos.

E, logo mais, o ilustre andreense também poderá ser assistido em trabalhos para a sétima arte. O filme O Homem Perfeito, dirigido por Marcus Baldini, em que faz um vilão chamado Caíque, deve ser lançado ainda este ano, assim como o longa A Terapia, dirigido por Roberto Moreira, em que atua ao lado de Cleo Pires. Falta alguma coisa ainda, Sergio Guizé? “Macbeth é o personagem que sonho interpretar”, diz. Se depender de sua dedicação à arte, o resultado desta fórmula de ‘ação e reação’ é fácil de prever.

 



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