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Miriam Gimenes
Cansada de todos os dias ouvir meu filho me perguntar, antes de ir para a escola, se uma amiguinha seria 'sua amiga' naquela determinada tarde, tive uma atitude politicamente incorreta: mandei ele dizer um desaforo para ela (não é palavrão, vale dizer). Essa cena se repete há alguns meses e em todas as outras vezes falei para ele não ligar, que quem estava perdendo era ela e tal. Mas chegou um momento limite – sou humana, desculpe – em que quis ensiná-lo a se defender, a deixar de ser tão bonzinho.
Pois bem. Eis que no primeiro dia de volta às aulas ele saiu todo feliz da escola. Correu, me deu um abraço e disse baixinho no meu ouvido: 'Sabe quem foi minha amiga hoje?'. Eu disse o nome da garota e ele assentiu, sorrindo. Graças a Deus, pensei comigo. E os dias se seguiram assim, ela sendo amigável.
Estávamos indo para um aniversário e ele virou para minha mãe e contou o que eu o havia mandado dizer para a amiguinha. E ela perguntou: 'E você disse isso para ela?'. Que de pronto respondeu: 'Jamais diria isso'. Nós o aplaudimos, mas minha vontade era de enfiar a cara em um buraco, tamanha vergonha que fiquei de meu filho. Não preciso dizer que me senti a pior mãe do mundo, embora estivesse querendo acertar.
E o que aprendi com isso? Que não é preciso ser rude para se defender. Ele constatou com pouco mais de 4 anos de vida o que eu em 34 anos talvez não tenha assimilado: 'Não existe verdadeira inteligência sem bondade', já dizia Beethoven. E quando pergunto por que a amiguinha agora o quer ao seu lado todos os dias, eis que me diz, enigmático: 'Ela aprendeu a lição'. Eu também, filho, muito obrigada.
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