Ai, como Silvino era grande

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Marcela Munhoz

Quando a televisão brasileira começou, em 1950, o bom humor de Paulo Silvino já dava as caras por lá. Apesar de a imagem ainda ser em preto e branco, seus olhos verde-água pareciam saltar pelas telinhas. Ontem, eles abriram e fecharam pela última vez. O ator – que lutava desde julho de 2016 contra um câncer de estômago – morreu, aos 78 anos, em casa, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O velório estava marcado para começar hoje, às 8h, no Memorial do Carmo, no Caju, e a cremação, para as 14h.

Filho de dois artistas, o radialista Silvério Silvino Netto e a pianista Noêmia Campos Silvino, trabalhou nas TVs Tupi, Continental, Rio, Excelsior e, claro, na Rede Globo, onde passou o crachá pela primeira vez em 1966 no humorístico Canal 0. Até fez novela, mas em sua veia corria sangue de comediante. Tanto que participou de vários programas do gênero. Balança Mas Não Cai (1968), Faça Humor, Não Faça Guerra (1970), Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976), Brasil Pandeiro (1978) e Viva o Gordo (1981) são alguns. Em sua passagem pelo SBT, esteve no elenco de A Praça é Nossa (1989). Também se fez presente em três escolinhas: na do Golias (1990), do Professor Raymundo (1993) e na do Barulho (1999). Seu último trabalho na Globo foi em Zorra Total, no papel do mulherengo Alceu. Ele também pode ser visto no filme Até Que a Sorte Nos Separe 3 (2015).

Os bordões – carregados de duplo sentido, sacanagem – viraram suas principais características. ‘Cara, crachá’ era dito pelo porteiro Severino; Olegário Carnaval repetia ‘Dá uma pegadinha aqui’ e ‘Dandá para ganhar tentém’; ‘Guenta, ele guenta’ fez sucesso com o policial Fonseca, entre tantos outros.

MULTIFACETADO
Mas Paulo Silvino não era só ator. Ele amava gatos, tinha lançado o livro As Aventuras do Papaceta e cantava. Já foi crooner de uma banda de rock e, quando tinha 20 anos, lançou o LP Nova Geração em Ritmo de Samba em parceria com nomes como Altamiro Carrilho, Durval Ferreira e Eumir Deodato. Ele também cumpria muito bem o papel de pai. O ator foi casado duas vezes e tinha três filhos: Flávio, João Paulo e Isabela. “Que Deus te receba de braços abertos, meu pai amado”, disse João, nas redes sociais.

“Meus filhos tiveram sorte de ter um pai ‘babaca’ como eu, amigo”, disse durante entrevista. Na mesma ocasião, falou sobre Deus e como reagiu quando seu filho Flávio sobreviveu a grave acidente de carro, em 1993. “Minha relação com Deus sempre foi muito íntima. Nunca o tive separado de mim. É um processo natural. Depois da história do Flávio, Deus não precisa me provar mais nada”. Silvino também sempre dizia que agradecia todos os dias por viver. “Agradeço por fazer parte desta festa maravilhosa que é vida.”

Agora, o substituto esporádico de Chacrinha – em 1988, Silvino comandou inúmeras vezes o Cassino – foi fazer a festa com ele lá em cima, no ano em que o Velho Guerreiro completaria seu centenário. Deus já deve ter separado a cadeira para o show. “Acho a comédia, o riso, uma das coisas mais sagradas que existem. Eu exerço a minha divindade. Eu faço rir”. Eis mais uma frase do Rei dos Bordões.




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