Usina de criação

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Vinícius Castelli

 É no fundo de uma casa térrea em um bairro tranquilo de São Caetano que funciona o ‘laboratório mágico’ do PalhAssada Atelie Soluções Cenográficas (facebook.com/palhassada), capitaneado pelo casal Marcos Tadeu e Karina Diglia. É lá que nascem diversas peças, cenários, ideias e invenções, com cores e vida, para vários espetáculos das mais diferentes linguagens culturais.

Dezenas de ferramentas, uma mesa grande, isopor, papel, cola, tesoura, ferro e o que mais for possível imaginar servem para o trabalho, que é sempre – ou quase – acompanhado por música e pelas dóceis cachorras Manu e Anita.

Um amigo de Marcos costuma lhe dizer que ‘o papel aceita tudo, qualquer ideia’. Mas fazer funcionar é que são elas. “É aí que a gente entra”, diz ele. E pelas mãos deles já nasceram bonecos, adereços e muito mais coisa para companhias importantes como Parlapatões, Pia Fraus e diversas outras mundo afora.

Tudo começou, oficialmente, há oito anos. Tanto Karina quanto Marcos faziam parte do meio artístico. Ela era funcionária de uma clínica, mas já era atriz. Ele trabalhava com iluminação de palco, ofício que herdou de Erike Busoni, da Cia da Matilde, também da cidade.

Karina saiu do emprego que tinha e com o dinheiro da rescisão de contrato investiu em pincéis e tinta. Nascia o ateliê. “Começamos a fazer miniaturas de esculturas de figuras de circo”, conta Marcos. Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. “A gente trabalhava na lavanderia de casa. Fomos para a garagem e a coisa foi indo”, diz. Surgiu o convite para fazer luz para o espetáculo Caravana, Memórias de Um Picadeiro, do Circo Roda. “Eles sabiam que fazíamos adereços”, diz Marcos. Segundo Karina, foi naquele momento em que tudo aconteceu e o nome deles passou a repercutir.

De lá para cá o trabalho não parou. Parlapatões virou grande parceiro. Fizeram adereços para um renomado restaurante em São Paulo recentemente. E o cinema entrou no currículo do PalhaAssada também, com as máscaras do longa Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina. Até ópera no Municipal de São Paulo o casal já fez. “A gente nunca fala ‘não’ para o trabalho”, diz a artista.

A dupla fica sem dormir, mas, se valer a pena, encara todo e qualquer desafio. “A gente se envolve muito. Tem trabalho com prazo de três dias e a gente vira a noite fazendo”, explica ele. A peça Tróilo e Créssida, de Jô Soares, também está na lista, assim como projetos para Miguel Falabella. Isso sem contar com as oficinas junto dos alunos da Fundação das Artes de São Caetano.

São tantas histórias que se fossem colocadas em currículo teria de ter calhamaço de páginas. Mas uma delas é especial. A de quando trabalharam em duas produções para o diretor canadense de teatro Robert Lepage. “Fomos convidados para sermos aderecistas em um espetáculo”, conta ela. Da equipe do Canadá, que tinha mais de 40 pessoas, a única que falava português era a aderecista.

“Produzíamos as coisas para o espetáculo na hora, ao vivo. Não tinha margem de erro”, explica Marcos. Na vez seguinte, alguém disse que eram especialistas em perucas de época, daquelas dos tempos de reis e rainhas. Só que nunca tinham criado. No fim, tudo deu certo.

Dos feitos mais recentes estão adereços de figurino para a peça Homem de La Mancha, em cartaz até hoje no Teatro Alfa, na Capital paulista. E a criação, uma armação com cabeça de um cavalo, foi inspirada nas peças de ninguém menos do que o artista plástico brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1909-1989).

Depois de tanto trabalho, eles não se esquecem de olhar para trás. Nome que é falado com carinho é Beto de Souza, do ateliê Boca de Cena. “Ele fez os bonecos do Vila Sésamo”, ressalta Marcos. “Nos ensinou do engatinhar a conjugar verbos”, brinca ele.

Como as coisas, um dia, passaram a não caber mais no carro da dupla, hoje, para ajudar, contam ainda com Dora, uma Kombi ano 1975 toda reformada que serve para a dupla trabalhar onde precisar. Até máquina de costura cabe nela. “Usamos em estacionamento de teatro, onde for”, diz ele. E como Karina e Marcos adoram um desafio, passaram a usar a Dora, que tem até página no Facebook (ADoraKombi), também em casamentos. “Fazemos de dois a três por mês. Uma vez um rapaz quis pedir uma moça em namoro na Kombi, daí fizemos city tour em São Paulo com o casal”, conta o artista plástico. Até de comercial de TV Dora já participou.

Com nome fincado no mercado de trabalho, eles seguem firmes e cheios de ideias produzindo o sonho e a demanda de quem os procura. Mas uma das vontades para logo adiante é ter sua própria exposição e seu próprio espetáculo. E por que não?




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