Cavadinha vai deixar saudades

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Marcela Munhoz

Nos últimos dias, Armando Ferreira estava impossibilitado de fazer a maquiagem de praxe, de vestir o figurino ou de calçar os enormes sapatos. Mas mesmo internado por conta das complicações de um câncer no esôfago, Cavadinha – que morreu no domingo, aos 81 anos – nunca, nem por um minuto, deixou de ser o que nasceu para ser: palhaço.

“Ele me pediu para levar ao hospital o número das flores, para presentear as enfermeiras. Fazia selfie com todas. E, antes de ir, ainda se levantou da cama e se apresentou para os doutores da alegria que foram visitá-lo. Sei que não sofreu e hoje está na companhia dos melhores: Arrelia, Carequinha, Picolino, Pimentinha, Torresmo, Piolin, Estrimilique”, conta Emerildo Ferreira, 64.

O filho de Cavadinha – que tem outro irmão palhaço, o Fubeca, 65, e o sobrinho Fubequinha, 31 – acredita que o pai cumpriu muito bem a missão que recebeu de Deus. “Ele amava ser palhaço e sempre nos ensinou a oferecer o nosso melhor. Viver profissionalmente da bolinha vermelha de nariz hoje é dificil, mas, mesmo assim, ele fez caridade, eventos beneficientes. Vivia ajudando. Lá no velório, quando fomos fechar o caixão, tinha uma senhora que chorava demais. Era uma catadora de ferro-velho para quem ele sempre oferecia um prato de comida.”

Cavadinha começou na profissão há 64 anos e se apresentou incansavelmente em vários circos, eventos e festas no Grande ABC. Participou, por exemplo, da inauguração da Cidade da Criança, em São Bernardo. Também fez peças de teatro e chegou a empresariar shows nos picadeiros. Muita gente se lembra das suas apresentações como se fosse hoje e lamentou profundamente a morte do palhaço. “Não tem criança dos anos 1980 e 1990 que não tenha visto algum show dele. Em minhas recordações vêm na cabeça os circos em que ele se apresentava com suas cachorrinhas. Como não se lembrar das festas dos dias das crianças nos clubes da região?”, recorda a andreense Camy Ferrini, 36, gestora ambiental.

Nos últimos tempos, Cavadinha estava dando curso de palhaço na Cidade Tiradentes. Foi lá onde realizou sua última apresentação, no Dia das Mães, vestido de mulher, ao lado de um de seus alunos. O artista fazia questão de ensinar seu ofício, foi assim com Eduardo Camargo, 42, o palhaço Paçoca. “Perdi um grande amigo e um verdadeiro mestre na arte circense. Aprendi demais com ele”, diz. E durante entrevista que concedeu ao Diário no Dia do Palhaço, em dezembro, Cavadinha deixou claro o amor pela profissão. “Ser palhaço é transpor o ridículo. E, principalmente, levar alegria para todos”, completou.




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