Exposição homenageia artista japonês

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Miriam Gimenes

O navio La Plata-Maru saiu de Nagazaki, no Japão, no dia 18 de agosto de 1934. Trouxe com ele, entre as centenas de imigrantes, Hisamatsu Mitake (1916-2015) e toda sua família – menos um dos cinco homens da família, que morreu durante o trajeto. Foram quase dois meses até alcançar o porto de Santos onde, enfim, tentariam uma vida melhor.

Só que três anos após chegarem ao País, teve início a ditadura de Getúlio Vargas, conhecida como Estado Novo (1937-1945). O presidente, que demonstrava afinidade com o nazifacismo, tinha uma política repressora. Cometeu graves violações de direitos humanos contra a colônia japonesa, que foi perseguida. Foi nesta época que Mitake foi preso, fato que aconteceu com alguns dos seus irmãos também. “Não sabemos ao certo o motivo de sua prisão, mas ele disse que é porque não podia falar japonês aqui e ele não sabia o português. Mas foi na prisão que um francês o ensinou a pintar e cozinhar. Ele pegou gosto pela pintura”, lembra a sobrinha do artista, Maria Keiko, 62 anos, de Mauá.

E o resultado de uma vida dedicada à arte poderá ser visto a partir de hoje, a partir das 8h30, na exposição feita em sua homenagem. A curadoria é da cardiologista e também artista, a equatoriana Amanda Calero.

Ela abriu, pela primeira vez, o espaço do seu consultório (Avenida Portugal, 141 – 4º andar), em Santo André, para homenagear o artista, que chegou a pintar peças para Porcelana Schmidt, de Mauá. “A sobrinha dele era minha paciente e observou que minha clínica era cheia de obras de arte. Trouxe um dia três obras dele e contou sua história. Tentei conhecê-lo pessoalmente, mas infelizmente não deu tempo porque ele já estava muito doente.”

Tempos depois descobriu que Mitake havia morrido e decidiu, então, fazer a exposição. “Não pode ser que o mundo se esqueça que ele um dia existiu. Suas obras deviam estar espalhadas.” Ao todo, nove quadros do artista, que primam pela paisagem – inclusive cafezais, que ele trabalhou enquanto jovem – poderão ser vistas durante um mês. A entrada é gratuita. 

 




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