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Yasmin Assagra
Seja uma gravidez esperada ou quando um casal é pego de surpresa, o momento é único e imensurável. A maioria das famílias aguarda pelo momento em que conhecerá os filhos e cada dia é uma nova fase. Mas, em algum casos, a gravidez pode não sair como o planejado. Ainda durante a gestação os pais recebem o diagnóstico inesperado de que a criança tem alguma deficiência, gerando fortes impactos e diversas reações não só neles, mas em avós, tios e amigos.
A vinda de Murilo, 3 anos, foi recheada de esperança e amor. Seus pais, Tássia Beneveto, 29, técnica de enfermagem, e Raphael Nacarato, 28, supervisor operacional, moradores de São Caetano, descobriram a gravidez quando tinham cinco meses de namoro. Diante da situação, oficializaram a união. Porém, nos exames de rotina, desconfiaram de certas atitudes do médico. “Fomos fazer o exame para descobrir o sexo da criança. Aí ele viu que era um menino, mas começou a demorar para finalizar. Mexia ali, mexia aqui e, como sou da área, vi os lugares que ele ia e voltava sempre, passava pela cabeça e coluna diversas vezes. Logo perguntei: ‘Não é espinha bífida não, né, doutor?”, relembra Tássia.
A espinha bífida, também conhecida como mielomeningocele, é diagnosticada por problemas no fechamento da coluna, ou seja, a medula espinhal do bebê não se desenvolve adequadamente e pode ser causada por fatores genéticos, deixando futuras sequelas no sistema neurológico, paralisia total ou parcial dos membros. É descoberta na gestação ou logo após o nascimento. “Meu mundo desabou, como assim? Meu filho tem ou pode ter tudo isso? O que eu faço, o que podemos fazer? Só conseguia pensar nos porquês. Por que comigo, com minha família, com meu bebê? “, revela a mãe.
Para o pai, Raphael, a surpresa foi ainda maior por não ter conhecimento sobre essa deficiência. ”Foi totalmente caindo o mundo, principalmente porque não sou da área de Saúde, então não tinha a mínima noção do que eles estavam falando. Tive muito medo, pois não fazia ideia qual seria o próximo passo, é a pior sensação”, conta.
Mesmo com o difícil diagnóstico, Tássia não pensou duas vezes ao se submeter a uma cirurgia intrauterina. “Poucas pessoas já tinham feito, não existia uma ‘garantia’ de melhora, mas existia a chance de dar uma vida melhor ao meu filho. Fechei os olhos e entreguei meu filho nas mãos de Deus. Hoje, aos 3 anos e 6 meses, Murilo goza de uma saúde perfeita”, explica a técnica de enfermagem, que se dedica agora a falar sobre essa cirurgia a casais que estão passando pelas mesmas angústias. “É importante que as pessoas saibam que existem possibilidades. Quando estávamos na dúvida de fazer ou não, o médico disse que só 50 crianças no Brasil tinham passado pelo procedimento e me mostrou uma foto dos pais e a filha caminhando. Na hora pensei que queria o mesmo”. A imagem de Tássia, Raphael e Murilo ilustra a primeira página desta reportagem.
FÉ E INFORMAÇÃO
DEVEM ANDAR JUNTAS
Sob os olhares de Verônica, 43, contadora, e Hilário Baptista, 48, autônomo, de São Caetano, quando o assunto é o filho Matheus, 4, a emoção toma conta das palavras e cada gesto é uma motivação para continuar sorrindo. O casal pensou em adoção quando soube da endometriose de Verônica, mas foi na mesma época em que descobriu a gravidez. Com 22 semanas, Verônica e Hilário voltaram ao médico para saber o sexo e sentiram que alguma coisa não estava no planejamento. “O médico começou a ficar muito sério, não falou mais nada. Meu marido perguntou sobre a gravação da ultrassonografia e o doutor disse que achava melhor não fazer por enquanto. Aí comecei a ver que tinha coisa errada, a cabecinha dele (Matheus) já estava com uma circunferência diferente e nós nem imaginávamos o que poderia ser”, comenta.
Segundo o pai, a insegurança tomou conta da família durante um longo período, e logo procuraram ajuda para obter novos conhecimentos. “Nós ficamos com aquela incerteza, até porque não conhecíamos a mielo, qual seria o diagnóstico e como é sua formação. Foi uma grande dúvida do começo até o nascimento e, nesse tempo todo, pesquisamos e fomos conhecendo a deficiência”, conta Hilário.
Para a psicóloga Tarita Romano, o sentimento de culpa é inevitável e todos os especialistas na hora do tramento têm sua importância. “Cada família tem seu jeito de receber notícias como essas. Procuramos sempre conversar com os dois, pois isso causa uma impressão de piores pais do mundo, e não é assim. Não é um diagnóstico fácil, por isso, é preciso equipe multidisciplinar e trabalhar diariamente com os profissionais encarregados de cada caso”, ressalta. Independentemente do diagnóstico, essas famílias têm, acima de tudo, seus filhos como principal estrutura, fé e amor para seguir construindo trajetórias de alegria.
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