De volta à estrada

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Miriam Gimenes

Anastácio era cheio de personalidade. Só fazia o que bem entendia, era muito barulhento e, quando estava ‘zangado’, tratava de se calar. Quem lê essa descrição atribui logo a um ser humano, mas, na verdade, este era o apelido do caminhãozinho usado por Amácio Mazzaropi (1912-1981) em seu filme de estreia: Sai da Frente (1952).
 
O longa, feito pela Companhia Vera Cruz, em São Bernardo, conta a história de Isidoro (Mazzaropi), dono do veículo em questão. A bordo de seu ‘amigo’ temperamental, o rapaz foi contratado para fazer o transporte de móveis até Santos e, durante o percurso da Via Anchieta, ele foi protagonista de histórias surreais e muito engraçadas.
 
O caminhão foi encontrado, no início do mês passado, em meio ao acervo da companhia, todo empoeirado. E, a partir desta semana, ele será restaurado pelos profissionais da oficina King Air, de São Bernardo. “O diretor de Cultura Adalberto (Guazzeli) entrou em contato comigo e perguntou se tinha interesse em fazer o restauro, sem custo ao município. Falei com alguns amigos que têm comércio em São Bernardo e eles se propuseram a ajudar. Vamos começar o restauro esta semana”, diz o sócio da oficina, Álvaro Pelosini Negri, que é colecionador de carros antigos.
 
Segundo ele, o restauro, que deve levar dez meses para ser concluído, chega a custar, em um veículo deste tipo, cerca de R$ 100 mil. “Da maneira que vamos fazer (com parcerias) provavelmente vai custar bem menos”, garante. Segundo ele, Por não ter de retornar ao original de fábrica, mas sim da maneira como era usado em cena, o trabalho fica mais fácil. “Me disseram que o Mazzaropi escolheu esse caminhãozinho, que era usado dentro do estúdio para carregar lixo, e ele preparou para usar em filme. Não quis comprar um carro novo, precisava de um caminhão velho e estragadão, e é como ele está.” Ele promete colocá-lo para funcionar.
 
O filho de criação de Mazzaropi, André Luiz Mazzaropi, diz que durante o filme foram usados dois caminhões. “Aqui em Taubaté tem uma réplica, mas o pessoal que é especialista contexta a autenticidade. Não sabemos onde foi parar, então, o outro.”
 
Segundo ele, onde quer que vá contar a história de Mazzaropi, o Anastácio faz sempre sucesso. “O caminhão era um personagem. Era tão importante que transcendeu gerações. Quando faço eventos contando a história, a molecada já conhece o Anastácio. É muito legal. Ele já era para ter sido restaurado há 20 anos (quando o acervo, antes em poder de Jordano Martinelli, foi em definitivo para o Pavilhão Vera Cruz) e não deixar chegar ao estágio que ficou. A administração atual não tem culpa disso. Mas é bom que eles façam sim.” Assim que finalizado o restauro, o veículo voltará ao poder da Prefeitura, que ainda estuda onde irá colocá-lo. Ele será usado para fins culturais.
 
 
 

 




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