Poesia vem da alma

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Miriam Gimenes

 Com o propósito de promover a leitura, escrita, publicação e ensino da poesia, a Unesco criou, em 1999, o dia mundial deste gênero literário, comemorado hoje. Adorada por alguns e evitada por outros – é só ver a lista das publicações mais vendidas, nenhuma delas é escrita em versos –, a poesia pode dizer muito sobre o autor e quem a lê. É que, além de expor o que há de mais íntimo no ser humano, permite, sem dúvidas, uma viagem sem roteiro no mundo da imaginação.

Segundo o poeta Mateus Machado, autor de Origami de Metal, ela serve de raio X. “Arte, em geral, é uma via de conhecimento através da purificação do ‘eu pessoal’, levando o indivíduo a conhecer sua alma e seus ideais de verdade e beleza. A poesia é uma experiência para a elevação da alma humana até a sua origem.”

Ainda com todo esse ‘predicado’, trata-se de um gênero pouco lido no País. Dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo IPL (Instituto Pró-Livro) há um ano, mostram que embora tenha crescido o número de leitores no Brasil, há muito o que melhorar. Poucos são aqueles que optam pela leitura de poesia por vontade própria. Atualmente, os jovens são os principais consumidores, provavelmente devido à exigência escolar. Na lista das publicações mais citadas entre os entrevistados não há nenhuma de poesia.

Para o escritor Jonas Ribeiro, formado em Língua e Literatura pela PUC-SP, o gênero não é entendido por muitos. “Poderíamos dizer que a prosa está para as noções elementares da Matemática assim como a poesia está para a Robótica ou a Física Quântica. Não podemos apreciar as nuances do que é complexo se ainda não compreendemos o básico.” Segundo ele, embora haja menos palavras em um poema, ele é mais difícil do que a prosa. “A prosa conduz o nosso raciocínio. Já a poesia nos delega a liberdade de interpretar. A prosa é um GPS. A poesia é um labirinto.”

O ilustrador e autor de vários livros infantojuvenis, entre eles O Livro das Palavras, Ricardo Azevedo partilha da mesma opinião. “A poesia sempre foi, em qualquer país, uma leitura mais sofisticada, feita por leitores mais seletos e com alguma cultura literária. Dificilmente a gente ouve falar num livro de poesia que seja um best-seller.” O escritor, que trabalha com crianças e jovens, sente que eles não têm grande interesse pelo gênero. “Entretanto, quando crianças e jovens são apresentados à poesia costumam arregalar os olhos de tanto espanto e interesse.”

Azevedo está certo. Pedro Pinheiro, 50 anos, porteiro da escola Xingu, de Santo André, que o diga. Ele, que escreveu seu primeiro poema – uma pequena estrofe – em 2005, não parou mais de fazê-lo e já teve a oportunidade, algumas vezes, de declamar seus textos para os alunos dos colégios onde trabalhou. “Aqui (no Xingu) fizemos atividades na biblioteca por três vezes e pedi para as crianças lerem meus poemas. Elas gostaram tanto que até dei autógrafo nos livrinhos que distribuímos. Isso é muito gratificante.”

Ele, que costuma elaborar os textos sobre datas comemorativas, todos publicados no www.poemasdopedrusko.blogspot.com.br, não tem pretensão de se tornar artista. Escreve poemas para homenagear a mãe, que partiu em 2013 – o que o deixa muito triste ainda hoje –, e também colocar no papel o que sua timidez não permite. “Poesia é uma coisa que sai de dentro para fora, da alma. É momento, é inspiração.” Como disse o poetinha, mais conhecido como Vinicius de Moraes, com as lágrimas do tempo e a cal do seu dia ele fez o cimento da sua poesia.




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