O gênio que veio do mangue

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Marcela Munhoz

 Há 20 anos, os fãs da música ficavam atônitos com a notícia de um acidente de carro em uma das vias que ligam Olinda ao Recife. Francisco de Assis França Caldas Brandão, 30 anos, foi vítima fatal. O Fiat Uno branco em que estava chocou-se em um poste. O artista estava sozinho na hora da morte, mas até hoje Chico Science é seguido por legião de fãs e admiradores.

O pernambucano só teve tempo de deixarem registrados dois álbuns com sua banda, a Nação Zumbi – que fez turnê em homenagem aos 50 anos que teria completado em 2016: Da Lama ao Caos (1994) e Afrociberdelia (1996). Os trabalhos, por sinal, foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone. Entre os sucessos, estão A Cidade, A Praieira, Maracatu de Tiro Certeiro, Quilombo Groove, Manguetown e Maracatu Atômico que, curiosamente, não foi escrito por Science, mas por Nélson Jacobina e Jorge Mautner, e gravado por Gilberto Gil em 1974.

Mas Chico não simbolizava apenas música. Ele sempre foi ídolo também de quem enxerga no manguebeat mistura de originalidade, força e revolução. O movimento se desenvolveu em Recife no começo dos anos 1990 e ganhou espaço como cena cultural, que misturava elementos regionais de Pernambuco, como o maracatu, com a cultura pop, como rock, funk rock, hip hop e música eletrônica. Além disso, as letras têm forte apelo social com críticas ao abandono econômico-social do mangue e de outras regiões do País.

HOMENAGENS NA REGIÃO
Chico Science e sua bagagem cultural são sempre lembrados por artistas de diferentes formações e em todo o País. A paulista Olivia Gênesi, 45 anos e 20 de carreira, fez questão de pensar em um show inteirinho ao pernambucano. Ela apresenta seu tributo particular ao público no Sesc Santo André (Rua Tamarutaca, 302), em uma semana, no dia 9, às 20h, com entrada gratuita. Sua versão é mais acústica, com piano, guitarra, bateria, violão e percurssão – ela conta com a presença de Bruno Barlan e Fábio Dregs.
Olivia não chegou a conhecer Science pessoalmente, mas é como se tivesse acontecido. “Quando lancei meu primeiro CD em 2000, o manguebeat estava fervendo, nos moldes da Tropicália (movimento que aconteceu entre 1967 e 1968). Fiquei impressionada com o cara. Ele fez fusão perfeita entre suas raizes, o que estava acontecendo de mais moderno na música e ainda chegou embasado por manifestos sociais. Hoje é muito difícil testemunhar movimento tão original e sincero”, conta.

Por outro lado, Fernando Borges Moretti tinha apenas 10 anos quando Science morreu. Não se lembra muito de todo esse rebuliço cultural, mas carrega em si grande admiração pelo artista. “Ele é meu ídolo. Para mim, nada foi tão rico artisticamente e de conceitos sociais quanto o manguebeat.” E as batidas impressionantes do movimento foram um dos motivos para a criação do Projeto Mangroove, em São Bernardo. É a união de uma bateria de escola de samba de universidade com os ritmos nordestinos, como o coco e maracatu. “O projeto tem o objetivo de propagar as ideias e as críticas à sociedade, feitas pelos pensadores que sempre buscaram um País com mais igualdade”, está escrito na página do grupo no Facebook.

O Mangroove tem show marcado para amanhã, a partir das 21h, no Lado B (Rua Rio Grande do Sul, 73), em São Caetano. A entrada custa R$ 20.




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