Coisa de macho

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Marcela Munhoz

 ‘Não tenho nada.’ ‘Marco médico quando precisar.’ ‘Essa dor vai passar.’ ‘É psicológico.’ ‘Vou na consulta para que? Quanto mais se procura, mais se acha.’ Quem nunca ouviu esse tipo de frase do avô, do pai, do tio, do sogro e do marido? Não adianta, ainda tem muito homem que não tira nunca a fantasia de super-herói. Mas já está na hora de cair na real e se prevenir. Mesmo porque, a cada ano, a expectativa de vida só aumenta – hoje são 71,9 anos para homens e 79,1 para mulheres no Brasil. E esta diferença de 7,2 anos não é à toa: elas estão acostumadas a se consultar desde cedo.

 
“A mãe já leva a filha ao ginecologista desde a primeira menstruação. O homem não. Para ir ao urologista ou qualquer outro médico é um drama. Só marca quando está sentindo alguma coisa, e isso pode complicar se já houver doença”, explica o urologista Emílio Sebe Filho, diretor-médico da clínica especializada Lifemen no Brasil. Formado há 50 anos – há 15 dedicado à saúde do homem –, Sebe conta que o comportamento masculino quase não mudou no decorrer nas décadas. Dado interessante diz respeito ao convencimento de levar o homem ao consultório. Pesquisa recente da Sociedade Brasileira de Urologia aponta que 80% dos que vão aos médicos só dão o braço a torcer porque são influenciados pela família, especialmente pela mulher. “Elas não têm medo de falar com a gente, de contar o que está acontecendo”.
 
Ainda não está convencido a marcar uma consulta? Pois bem. Você sabia que, segundo pesquisas, mais de 95% dos casos de câncer de próstata já se encontram em fase avançada quando descobertos? O câncer de próstata é que mais assusta o sexo masculino. Trata-se do segundo tipo que mais mata homem no País (o primeiro é o de pulmão). De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva), no biênio 2016/2017 serão 600 mil novos casos da doença só no País, sendo que um a cada 36 brasileiros morrerá dessa doença.
 
“Parece mentira, mas muitos homens sequer sabem o que é e para que serve a próstata”, observa o urologista. A próstata é a glândula produtora de fluído – rico em proteínas, vitaminas e sais minerais –, que protege e nutre os espermatozoides. A uretra, que transporta a urina e o sêmen para fora do corpo através do pênis, atravessa o centro da próstata, localizada na frente do reto e abaixo da bexiga. Os exames – incluindo o tão temido ‘toque retal’ – detectam se existe algum tipo de anormalidade na glândula e devem ser feitos a partir dos 45 anos. Mas há um porém. “Se o paciente tem um parente com a doença, a idade cai para 40 anos. É que a incidência dobra a cada caso na família”, detalha o especialista. O exame de toque retal dura menos de 15 segundos.
 
Quando se trata de disfunções sexuais, o tabu é ainda mais gigante. Mas os problemas relacionados também atingem muita gente. Estima-se que 50% dos homens acima dos 40 anos sofrem de disfunção erétil em graus diferentes. “Falar que não tem mais ereção ou que sofre de ejaculação precoce é algo extremamente complicado para eles. Difícil homem assumir que tem algo”, comenta Sebe. “O mais perigoso”, continua o médico, “é que muitos se automedicam (com estimulantes como o Viagra) e não resolvem o verdadeiro problema. Alguns afirmam que o problema é só psicológico, mas fazer exames é a grande chave para descartar qualquer disfunção física.”
 
PAIS SÃO RESPONSÁVEIS
Concluindo: é de extrema importância que os meninos também façam consultas anuais aos urologista e são os pais que precisam criar esse hábito. Muitos problemas, como o não desenvolvimento dos testículos e pênis, por exemplo, só podem ser resolvidos se acompanhados desde cedo. “Se nada for feito afeta a criança e vai fazer o adulto sofrer muito, porque não dá para tratar depois”, alerta o urologista, que deve lançar em abril livro que servirá como bíblia da saúde dos homens.
 
Outro exemplo é a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como o HPV, sigla em inglês para papiloma vírus humano. Além de ensinar desde criança a como se proteger corretamente, o médico pode receitar a vacina contra o vírus ainda na infância. Para quem não sabe, desde o mês passado a rede pública de Saúde passou a oferecer a vacina para meninos de 12 a 13 anos (antes era só para meninas). Existem mais de 150 tipos de HPV, que são responsáveis por câncer de pênis e, principalmente, de cólo de útero.
 
“Tudo o que se puder prevenir é muito melhor do que remediar. E, nesse caso, protege não só o homem, como também suas futuras parceiras”, bate na tecla o diretor-médico da Lifemen. Há oito anos no Brasil, a clínica está em fase de reposicionamento, justamente para promover a cultura de prevenção. A nova filosofia é antes de tratar a doença, cuidar da saúde dos pacientes. “Hoje meu objetivo é cuidar da qualidade de vida de quem vem se consultar comigo.” Muito bem, doutor.



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