Finalmente, Elis

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Marcela Munhoz

 ‘Ah, mas você precisa saber separar quem foi a cantora de como foi construído o filme, pensar na parte técnica’. ‘A atriz é caricata’. ‘Não explora o cenário fervilhante da época’. ‘A vida de Elis nem era tão dramática’. ‘O diretor foi superficial’. ‘A dublagem é ruim’. Basta dar rápida olhada nas críticas sobre a cinebiografia Elis, que chega hoje a várias salas de cinema da região, para ler as frases citadas. Mas um longa que foi aplaudido de pé por mais de 1.000 pessoas no último Festival de Gramado, uma Andréia Horta que já ganhou prêmios, justamente, pela entrega ao papel, um projeto de Hugo Prata aprovado, e elogiado, pela família da própria cantora não merece este tipo de análise. Não mesmo.

Elis é emocionante, intenso, bem-feito e, especialmente, respeitador da memória e do legado da gaúcha de Porto Alegre, sim senhor. Vai acalentar os que tiveram a oportunidade de ouvi-la nos shows e programas ao vivo de rádio e televisão e surpreender quem não viveu na mesma época da artista, que morreu em 1982 aos 36 anos.
“Foi bom trazê-la de volta, queríamos que o projeto ajudasse a compreender o que acontecia na cabeça dela, o que viveu”, explica Hugo Prata, ao Diário. Pedro Mariano, um dos filhos da cantora, gostou do que viu. “O caminho que ele (o diretor) escolheu foi interessante, artisticamente muito bom. Andréia emociona em vários momentos, é intensa e pura.” A atriz – capa da revista Dia-a-Dia de novembro – se preparou durante meses para o papel, inclusive, com técnicas vocais. Ela cantou de verdade nas cenas – dá para ver as veias do pescoço pulando, os olhos inflamados, os gestos fortes –, mas nunca se cogitou não usar a insubstituível voz original da Pimentinha. Ainda bem, não?

A cinebiografia mostra uma artista que chega aos 19 anos ao Rio de Janeiro em busca de oportunidades e como conseguiu espaço na música. Analisa também o que acontecia na época e como ela precisou brigar contra a ditadura, o machismo, os julgamentos. Em meio a isso, retrata a Elis filha, mulher, esposa e mãe. E, então, como a cantora se cobrava, se punia e se culpava por satisfação e felicidade plenas impossíveis. O fim todos nós sabemos. 

Óbvio que em apenas duas horas é impossível mostrar tudo sobre a vida de uma pessoa, especialmente, de alguém que era ligada no 220V, não levava desaforo para casa, era apaixonada pelo seu ofício, fez história e partiu de forma tão súbita, mas o tempo que se passa grudado na poltrona vale muito o valor do ingresso. Sempre falta algo. Ela era tão rica, tão fantástica. Duas horas são pouco. Precisamos produzir mais filmes sobre ela”, completa Prata, que fez sua estreia como diretor nos cinemas. E como a própria bradava aos quatro cantos: primeiramente, vá ao cinema entregue, despido de julgamentos. “Estou de saco cheio de tentar ser perfeita. Quero ser livre, fazer o que acredito.” Isso mesmo, Elis.




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