Curta-metragem em camadas

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Luís Felipe Soares

Leo Matsuda é resultado de duas culturas diferentes. Aos 34 anos, o paulista é descendente de japoneses e traz no sangue a herança de povo racional e disciplinado, mas também não nega toda sua brasilidade com a paixão por viver intensamente. Ele aproveitou para brincar com isso na elaboração do curta-metragem Trabalho Interno, que marca sua estreia na direção e lhe dá o currículo de ser o primeiro brasileiro a comandar uma produção dos estúdios Disney. Na trama desenvolvida em pouco mais de seis minutos, Paul tem cotidiano maçante, passando seus dias dentro de um escritório. A sacada do filme é destacar a interação dos órgãos do protagonista, com o cérebro tomando as rédeas do corpo e o restante brigando por suas vontades, como o coração batendo forte por algumas horas de lazer na praia.

Matsuda conversou com o Diário durante sua vinda ao Brasil para participar, como convidado especial, do Anima Mundi, maior festival de animação do País. Sobre o sentimento um tanto quanto libertador trazido pela história da obra, o diretor alerta sobre a perda de confiança que as pessoas podem ter na medida em que a vida passa. “Encaro como sendo um tema sério, entendendo que vários se deparam com essa questão no cotidiano. A mensagem do curta é de que tudo pede um equilíbrio.”

A maneira como a animação apresenta a dinâmica entre o que existe dentro do personagem central – principalmente na transposição entre exterior e interior – lembra as páginas transparentes sobre o corpo humano que havia nas antigas coleções de enciclopédias, comuns entre os anos 1980 e 1990. “Quando combinava aquelas páginas achava fascinante como os sistemas se conectam. Essa é uma das memórias mais marcantes da minha infância e sempre quis contar uma história sobre aquilo.”

CARREIRA NO EXTERIOR
Formado em Desenho Industrial, Matsuda sempre sonhou em trabalhar com animação e, depois da faculdade, foi estudar sobre o tema nos Estados Unidos. Ele atuou nas equipes de Os Simpsons: O Filme (2008), Rio (2011), Detona Ralph (2013) e Zootopia – Essa Cidade é o Bicho (2016), alguns no departamento de histórias e outros como storyboarder, e tentou aproveitar ao máximo a maior chance da carreira até o momento. “O processo mais pertinente foi o de entender qual é a minha voz nessa nova função. Tive que conduzir toda uma equipe a ajudar a dar ‘vida’ à minha visão. Se não tivesse clara a ideia do filme na minha cabeça seria onde os problemas poderiam aparecer”, diz, ressaltando que o processo levou dois anos.

A estreia de Trabalho Interno no Brasil ocorre em 5 de janeiro, quando irá abrir as sessões do longa-metragem Moana – Um Mar de Aventuras. “As pessoas acham que há uma ligação direta entre o curta e o filme principal, mas isso não existe. Os filmes na Disney são feitos de maneira individuais e as equipes acabam se ajudando quando preciso.” Enquanto observa seu próprio curta viajando o mundo, o paulista ajuda o departamento de história da Disney a elaborar as tramas das sequências de Frozen – Uma Aventura Congelante e Detona Ralph.




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