Lar doce lar

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Vinícius Castelli

 A enorme tapeçaria de Burle Marx (1909-1994), enfim, voltou para casa. Após ser destaque em mostra de Nova York – durante exposição que tomou conta do Museu Judaico (thejewishmuseum.org) com início em maio – e de ter feito um pit stop de quase duas semanas no Aeroporto de Guarulhos, esperando ser liberada, a peça já está em seu devido lugar: o nono andar no Paço Municipal de Santo André.

Avaliada em R$ 3 milhões, a tapeçaria – que mede 26,38 metros de comprimento e 3,27 metros de altura – mobilizou, na manhã e tarde de ontem, mais de 20 pessoas em operação muito delicada no prédio da Prefeitura, parecida com a da retirada, feita em 1º de abril. O trâmite foi acompanhado pela arquiteta do Paço, Érica Tortorelli, e pela museóloga Mayra Gusman de Souza. As duas continuam acompanhando o processo, que deve ser encerrado na segunda-feira, quando a peça será recolocada em seu chassi. Para tanto, serão necessários andaimes mais altos. Além disso, segundo a arquiteta, os próximos dias serão bons para que as fibras descansem.

A obra-prima, que foi projetada pelo paisagista e artista plástico para Santo André, chegou em caminhão com escolta armada, embalada em caixa especial de madeira por volta das 10h. Após sair do veículo, a embalagem foi levada para a parte lateral do prédio e amarrada com cordas, cabos de aço e içada até o nono andar, onde fica o Salão. Foram quase duas horas de trabalho. “A tapeçaria chegou aqui em veículo climatizado e estava acomodada em cilindro de proteção”, explica a arquiteta, que testemunhou toda a empreitada, desde as primeiras conversas com os curadores do museu norte-americano, há dois anos.

A caixa, com peso de cerca de 490 kg – só a tapeçaria marca 350 kg – chegou intacta. Lá no Salão, o compartimento foi aberto e a peça tirada por funcionários especializados. Segundo Miulnei Barbosa, responsável pela ação, incluindo o transporte no Brasil e devolução da obra, um dos momentos mais delicados foi o içamento. “É extremamente arriscado. Precisamos contar com pessoas muito experientes”, afirma o profissional. Vale lembrar que a escolha pela empresa, além de todo o custeio de viagem, foi feito pelo museu norte-americano. A museóloga de Santo André acompanhou a saga da tapeçaria, inclusive nos Estados Unidos, cujos gastos também foram arcados pelo Museu Judaico. “É um orgulho saber que a tapeçaria representou nossa cidade. A exposição foi um sucesso. Chegou a ser vista por mais de 54 mil pessoas”, comemora Mayra.

O secretário de Cultura de Santo André Tiago Nogueira conta que a peça foi higienizada antes de partir e lembra que o Museu dos Estados Unidos, em contrapartida, fará a troca das luminárias do saguão do Teatro Municipal de Santo André, no valor de R$ 38 mil, além da reforma do Tríptico, outra obra de Burle Marx, que também fica no saguão. O dinheiro já está em caixa, só faltam os trâmites burocráticos para iniciar a obra.

Mayra conta que recebeu relatórios mensais de controle de iluminação e temperatura da peça enquanto ela estava no Exterior. “O que tive de ter mais cuidado foi a iluminação, pois pode alterar as cores após certo tempo”, explica. Ela conta também que, enquanto a peça esteve presa no aeroporto brasileiro, na volta, por conta de mobilização dos auditores da Receita Federal, que desde agosto estão praticando espécie de operação-padrão – com a fiscalização e liberação de mercadorias mais lentas –, vistoriou o local onde a tapeçaria ficou guardada. “É como se fosse um filho”, brinca. Érica, por sua vez, pretende agora entrar com a papelada junto ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) pedindo o tombamento da tapeçaria.




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