Na trilha do paraíso

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Miriam Gimenes

Franz Kafka (1883-1924), ilustre escritor que nasceu em Praga, no Império Austro-Húngaro – atual República Tcheca, na Europa Central – certamente se inspirou nas belezas de seu país e em experiências pessoais por lá para escrever parte de suas obras. Não se sabe, no entanto, se ele teve oportunidade de desbravá-lo como merecia, até por conta de seu pai, um comerciante abastado e um tanto opressor, que marcou profundamente a sua trajetória. Mas não há dúvidas de que ele tenha contemplado a natureza local. Caso contrário não teria feito esta frase: “Você não sabe a energia que reside no silêncio”.

Para tirar a prova, basta escolher alguma das trilhas disponíveis por lá. Realizar uma simples caminhada, tradição secular entre os tchecos, é a oportunidade de apreciar a beleza natural de suas montanhas, aldeias mineiras, vales profundos, bosques e sentir a tal energia do silêncio. E detalhe: não tenha medo de se perder. Tudo por lá é bem sinalizado, já que o país, desde que se separou da Eslováquia, em 1993, tem investido e muito no turismo.

Segundo o representante no Brasil do Czech Tourism, Luiz Fernando Destro, a geografia tcheca favorece a caminhada. “Não tem grandes desníveis, mas as paisagens são muito bonitas, cheia de rios, lagos, pequenos morros. Na fronteira com a Áustria estão as montanhas mais altas para quem quer se aventurar. Tem trilha para todos os gostos”, garante.

A prática ganhou força na República Tcheca por conta de seu sistema político. Comunista desde 1948 (até 1989), época em que Klement Gottwald e os comunistas deram golpe de Estado, o país se tornou um satélite da União Soviética e seu desenvolvimento estacionou. “Não havia, portanto, possibilidade de fazer turismo no Exterior e, por isso, nasceu por lá uma das primeiras associações de agentes encarregados de organizar passeios dentro do território e assim nasceu a tradição de caminhar”, explica Destro.

Aliando isso à paixão que os tchecos têm pela vida ao ar livre, criaram-se as trilhas, que são divididas pelo grau de dificuldade. A das montanhas, por exemplo, tem como opção a de Krkonoše, localizada na fronteira da República Tcheca e Polônia. Lá há dois caminhos verdes: o primeiro leva ao cume da montanha Snežka, a mais alta da República Tcheca. Pode-se chegar ao cume passando pelo vale de Obrí dul, com magníficas vistas panorâmicas. Quem tem menor condicionamento físico pode subir ao alto da Snežka com o teleférico de Pec pod Snežkou.

A nascente do Rio Elba representa o segundo ponto forte das montanhas de Krkonoše. O rio, que flui pela Boêmia do Leste e do Norte e continua pela Alemanha até o Mar do Norte, tem sua nascente no campo do Elba (Labská louka). É possível chegar lá a partir de Horní Misecky, complexo desportivo famoso, localizado perto de Spindleruv Mlyn, onde os turistas menos experientes podem chegar ao seu destino por teleférico.

Especialistas em turismo de alta montanha recomendam uma rota específica na República Tcheca pelas montanhas Jeseníky, que fazem parte das mais belas em todo o país. Já as famílias, ressalta Destro, preferem as trilhas mais próximas dos lagos e as feitas em vinícolas. Confira algumas abaixo.  

ROTA DO VINHO. Os passeios ao longo da natureza tranquila da Morávia do Sul representam a antítese das dramáticas caminhadas por meio das montanhas. Uma caminhada por Pálava leva à metrópole de vinho de Mikulov com seu popular Monte Santo (Svatý Kopecek). Depois de completar esse caminho virão as ruínas românticas de Sirotci Hrádek. Durante o passeio, o ambiente agradável da Morávia do Sul e, claro, excelentes vinhos que podem ser provados em cada uma de suas adegas.

RIOS E LAGOS. Quem visitar o Sul da República Tcheca encontrará paisagem pitoresca e densos bosques em Šumava. Por lá também se recomenda dezenas de rotas como, por exemplo os lagos de Cerné jezero e Certovo jezero, que encantam os viajantes. Ambos se ocultam num profundo bosque, onde não é possível chegar de carro. É uma beleza a ser descoberta a pé.

 

 




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