Com vocês, Cartola

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Miriam Gimenes<br>Do Diário do Grande ABC

Toda vez que a professora faziaa chamada em sala de aula era a mesma coisa: Agenor não respondia. A justificativa era a falta de costume com seu nome de batismo, já que, mesmo antes de nascer, havia ganhado a alcunha de Cazuza. Só depois de descobrir que um de seus compositores prediletos, Cartola (1908-1980), era seu xará, passou a falar com orgulho o nome descrito em seus documentos.
Também pudera. Angenor de Oliveira – por erro de registro em cartório o seu nome ganhou um ‘n’ a mais – não só era um gênio como é considerado por músicos e críticos o maior sambista da história da música brasileira. E o Itaú Cultural escolheu este ano, em que o samba completa um centenário, para homenageá-lo. Teve início neste fim de semana a Ocupação Cartola, com curadoria de Fabiana Cozza.
Na mostra, o visitante encontra tudo sobre o sambista e fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira – 18 vezes campeã do Carnaval do Rio de Janeiro – e detalhes da sua vida, obra e processo de criação. “A gente defendeu o Cartola poeta até mais do que o sambista. Não queremos em momento algum cair nos estereótipos nem ficar explorando o pobre, o negro, que não teve estudo formal. Falaremos do poeta”, diz Fabiana. Segundo ela, a maneira como se relacionava com o meio aliado à sua delicadeza fez dele um homem genial. A homenagem se estende a dona Zica, pseudônimo de Euzébia Silva de Oliveira (1913-2003), sambista da velha guarda da Mangueira, parceira e grande amor de sua vida.
A ocupação, que não segue ordem cronológica, proporcionará ao visitante a oportunidade de conhecer a história de Cartola de qualquer ângulo. “Mostraremos o contexto em que ele nasce (no bairro do Catete, Rio de Janeiro). Há uma paisagem sonora em que as pessoas vão ter a sensação de estar no Rio em 1908. Também traz manuscritos inéditos e explicações sobre algumas canções, tudo bem interativo e acessível.”
E tudo, acrescenta, foi construído a partir das falas do próprio compositor. “Não chamamos nenhum doutor, nada disso. Ele por si só fala, explica e nos dá os caminhos da carreira que fez e como se tornou o grande poeta que é até hoje. O lirismo de sua música ainda é muito presente e tem encantado geração jovem de cantores”, finaliza Fabiana.
Em toda sua carreira, Cartola gravou apenas quatro discos solo – o primeiro deles aos 66 anos, seis antes de morrer –, deixou mais de 500 canções, entre elas a clássicas Rosas Não Falam, algumas compostas em parceria com nomes como Carlos Cachaça, Dalmo Castello e Elton Medeiros.
Ocupação Cartola – Exposição. Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, em São Paulo. Até 13 de novembro, de terça a sexta-feira, das 9h às 20h. De sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h. A entrada é gratuita. Programação de shows no site www.itaucultural.org.br.  




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