Poesia com dedo nas mazelas

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Vinícius Castelli

 A poesia para ser vivida, respirada e, mais do que isso, para fazer pensar. A vida artística segue forte para o poeta Hélio Neri, andreense que, quase uma década depois de sua estreia com a obra Anomalia, dá vida ao seu quarto livro. Anestesia (Editora Córrego, 82 páginas, R$ 30, em média) tem lançamento marcado para amanhã, no Chalé do Pão de Queijo (Rua Dr. Albuquerque Lins, 118), em Santo André, a partir das 18h30. A entrada é gratuita.

Feito de forma independente, sem apoio financeiro público ou privado, Anestesia não tem como intenção falar de amor, romantizar as flores e perfumes dos campos. O autor usa a arte para apontar o dedo para mazelas e para o rumo que o mundo está tomando. E tem êxito.

Ele escreve sobre o que o incomoda, chama sua atenção. Para Neri, a poesia, assim como a música, pode ser realizada de várias formas e viés. “Sei escrever assim: sobre o cotidiano, o que nos cerca, o que agride o meu observar, tento, às vezes, aumentar meu horizonte, dar mais amplitude à minha poesia, mas sempre trago, voluntária ou involuntariamente, um ponto ou outro de turbulência”, afirma.

Segundo o poeta, o título da obra é sugestão para que as pessoas possam suportar o baque, a pancada, doses de anestesia para seguir adiante. “É ainda um resquício de humano que vive em nós, mesmo com tanta barbárie e atrocidade, talvez seja um sinal ou espécie de redenção: o ser humano ainda capaz de produzir o sublime, dentro de tanto horror e pessimismo”, diz o escritor.

Para o autor, a inspiração para a obra está relacionada à grande ebulição que o mundo vem sofrendo de uns tempos para cá em vários aspectos: “A impressão que tenho é que o mundo entrou em espécie de descontentamento universal, não há sequer um só ser vivo contente nesta Terra, até a natureza, não para menos, se revoltou e está descontrolada”, reflete. Mas ele também mostra ares de esperança.

Neri aproveita a obra para homenagear outro poeta da região, Zhô Bertholini, em Código de Barra. “Zhô abriu os braços para nós todos, Fabiano Calixto, Tarso de Melo, Kleber Mantovani, Danilo Bueno e muitos outros, um grande incentivador da poesia, sempre nos motivou com sua disposição e paixão pela palavra (isso, nos idos dos anos 1990, com o surgimento do Alpharrabio, da também extremamente importante, Dalila Teles Veras). Eles são culpados e cúmplices de eu estar aqui hoje.”




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