A dona do estilo

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Christiane Ferreira

Foto: Nário Barbosa

O apartamento que mora no bairro Higienópolis traduz seu jeito de ser. Nas estantes e mesas livros são objetos de conhecimento e decoração. Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, Jorge Amado, obras com poemas, história da sociologia, em português, italiano ou francês. Costanza Maria Teresa Ida Pallavicini Pascolato, ou Costanza Pascolato, é  curiosa, se define assim.

Foi a tal curiosidade que a aguçava a ver além do que era mostrado no colégio e que a tornou ícone de moda e estilo. “Não gostava de estudar porque achava chato. Tudo o que me mandam fazer eu não gosto, descubro sozinha. Mas pago o preço, a vida é do jeito que eu quero. Os outros ficam mais confortáveis no convencional“, afirma ela, que, ao  descobrir a lista de livros proibidos pelo Vaticano quando jovem, fez questão de lê-los um a um. O convencional não faz parte de seu vocabulário. Apesar de ser de família abastada,  nunca foi acomodada. Como consultora de moda, é respeitada e admirada. “Não sou atriz de  novela, não canto, não danço, e aos 69 anos (hoje tem 70 anos; faz 71 em 19 de setembro) as  pessoas pedem para tirar fotos ao meu lado como se fosse pop star. Se acho isso o máximo? Óbvio que sim.“ O trecho é do último livro de Costanza, Confidencial, Segredos de Moda, Estilo e Bem-viver, lançado em 2009. Ela escreveu também Como Ser uma Modelo de Sucesso, juntamente com Milly Lacombe, e O Essencial, primeiro de sua carreira.

A moda está latente na vida de Costanza, assim como sua vontade de experimentar o novo. Talvez por isso o tempo não passe para ela. A idade no corpo nem sempre acompanha os pensamentos rápidos. “Nem me dou conta que tenho 70, às vezes lembro porque a coluna dói“, diz bem-humorada.


NA VANGUARDA FASHION


Como consultora de moda, Costanza é referência. Sua família fundou a tecelagem Santa Constância no fim da década de 1940, quando após o lançamento do New Look Dior (silhueta criada por Christian Dior, cuja saia chegava a ter 40 metros de tecido), Gabriella Pascolato, a matriarca, percebeu que o Brasil não poderia atender a demanda de tecidos e convenceu o marido, Michele, a fundar a empresa. Estava certa!

Costanza vai diariamente à tecelagem – depois das sessões de pilates – e é responsável pela área de estamparia. O trabalho a auxilia a estar na vanguarda fashion. Seu lugar na história da moda não foi conquistado à toa. É fruto de determinação. Lembra de ter assistido à revolução do prêt-à-porter em Paris, quando a alta-costura perdeu terreno. “Todo mundo me vê como entidade chique, mas a minha cabeça sempre foi curiosa.”

Ela é chique. sofisticação e educação são inerentes, até quando cruza as pernas e deixa o sapato balançando do pé. Ela diz que é a preocupação com o ser humano que a faz assim e  comprova me fazendo testar o gravador para verificar se o mesmo funcionava e se seria possível ouvir a voz dela na hora de escrever o texto. E arrematou: “Já estive do lado de lá”. Refere-se aos trabalhos em revista e jornal. Começou como produtora de moda. Batalhou para se fazer respeitar, pois os companheiros de trabalho achavam que não precisava de dinheiro. Mostrou o contrário. “Não podia escrever textos grandes porque não era jornalista. Ficava brava.”

Depois, foi trabalhar em um jornal. “Escrevia matérias extensas como exercício da minha inteligência. Disse: quero escrever uma coluna de duas páginas para mostrar o que acho que é novo, o que acontece na moda. Foi aí que comecei.”

Foto: Nário Barbosa

O TEMPO TRAZ SABEDORIA

A vida de Costanza foi de revoluções e soube lidar bem com todas elas. Italiana de Siena, veio ao Brasil aos 5 anos, quando a família fugiu da Segunda Grande Guerra, em 1945. Foi alfabetizada em casa, por sua governanta suíça, Blanche, por quem até hoje tem carinho especial. E foi Blanche que a apresentou às obras de Simone de Beauvoir e Rousseau quando tinha apenas 10 anos.

Costanza mostrou-se forte ao superar um câncer de mama, depressão e doença de Graves (problema que atinge a órbita ocular e motivo pelo qual a faz estar quase sempre de óculos escuros). “Tenho força para sair das coisas que me incomodam, que fazem com que eu seja uma pessoa menos útil e ativa. O terror que tenho é ser inútil, é o grande medo da minha vida”, relata. Talvez por isso ela tenha o dramaturgo, escritor e poeta irlandês Oscar Wilde no rol de seus preferidos. “Desconfie de uma mulher que revela  a verdadeira idade. Uma mulher que faz isso poderá dizer qualquer coisa.” A frase? É dele, Oscar. “Além de gênio, tinha rapidez mental”, fala, admirada.

Costanza é autêntica. Não tem medo de contar a sua idade, mas em alguns momentos, no passado, mentia, dizendo ser mais velha. Poética, admite que o medo de perder a juventude ao revelar quantos anos possui pode ser substituído pela conquista da longevidade.

Nesta busca, dedica-se há sete anos à musculação espiritual. “Estudei literatura brasileira com José Miguel Wisnik (que foi professor de Teoria Literária na USP) para entender a palavra, me aprofundar no conceito e na versatilidade dela. Depois fui estudar Filosofia, porque são várias maneiras de pensar. É o exercício do pensamento”, conta a italiana determinada, que certa vez desceu de pijama nas ruas de Higienópolis para impedir o corte de uma árvore, cuja copa chega à sacada do seu apartamento, no quinto andar. Na ginástica da mente, também está o aprofundamento em religiões do Ocidente e Oriente.

Ícone de estilo, não sofre como a maioria das mulheres que vive às voltas com o dilema de não saber o que vestir. “É o meu trabalho, não sofro por isso.” E por meio do que usa, afirma dar pequenos depoimentos diários. No dia da entrevista vestia calça sequinha, camisa “podrinha” (definição dela) e sapatilha, tudo preto, sua cor preferida. Explica que foi para nos deixar à vontade em sua casa. E sobre a escolha da cor, é enfática: “Tenh



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